
Em tempos de craque...
45 minutos do segundo tempo, tensão, aflição, todos esperam atentamente por um momento, um único momento, o golllllllllllllllllllllllllllllllll ! Racionalmente um gol não faria tanta diferença em dias comuns, não faria diferença para os ouvidos desatentos, para os cardíacos e para os hipertensos. Em época de copa do mundo os sentimentos afloraram, as emoções se reanimam, o patriotismo é exaltado. O futebol consegue se converter numa fração de segundos em religião, onde a bíblia é o juiz, o templo é o campo, os seguidores a torcida, os pregadores são o jogadores e a fé é o gol.
Copas e mais copas, envelhecemos a cada quatro anos e adquirimos experiências e assistimos a mitos e queremos sempre mais, queremos arte, pintura, pintores, craques, mitos de carne e osso. E por falar em craque, não me esqueço de um deles, por mais que não transpareça, eles estão em extinção, não, não enlouqueci, eles estão em extinção. Estados Unidos, 1994, foram diversas cidades, diversos gols, apenas sete jogos, apenas um nome. Um técnico “turrão”, um time desacreditado, medíocre na verdade, companheiros esforçados e um homem... No Brasil, garrafas quebradas a cada gol, era o camisa onze, lhes apresento o craque.
Definitivamente, craques não se fabricam, craques não se constroem, craques nascem prontos, craques só precisam se aprimorar para se transformarem em ídolos. Craque é aquele que dribla, que enxerga além, que pensa antes de lançar e que não titubeia, não “amarela”, como dizem. Esses, meus amigos, graças aos Deuses, ainda não estão em extinção. E quando falamos em craque, logo nos vêm à cabeça nomes como, Zico, Garrincha, Rivelino, Tostão, Pelé, Romário, e tantos outros. Vem a cabeça nomes que nos fizeram vibrar, chorar, pular, torcer de verdade, nomes que nos fizeram sentir raiva e sentir orgulho de ser brasileiro, um dia eles ainda irão descobrir como nos fazem sentir...
Na categoria craque um deles se destaca, um deles é Romário. Sujeito de nome incomum, de fala pausada, língua presa e declarações bombásticas, língua afiada e bola no pé. Ele foi símbolo de toda uma geração, nos representava ali dentro do campo, carregava consigo o gol, Romário sempre foi sinônimo de gol. Muitas vezes mal encarado, muitas vezes modesto e tantas outras debochado, o ídolo não só sabia mexer com a bola, como também sabia mexer com as palavras, Romário é o cara, Romário sempre foi o cara.
O “baixinho” dispensa comparações. Nunca teve a genialidade de um Pelé, nem a calma de um Zico, nunca teve a técnica de um Tostão e nem a precisão de um Gérson, nunca driblou como Mané Garrincha. Sempre foi Romário, e isso para ele sempre bastou, é e sempre foi Romário. Nunca gostou de treinar, sempre gostou de holofotes, camisas temáticas e choros incontidos. O ídolo é incomparável. Erra, e quem não o faz? O baixinho é gênio, o gênio da área, gênio do gol. Romário é gol. Vida eterna. Salve Romário!
ILUSTRÇÃO: Siegfried Woldhek