19.8.06


Ao longo do mês de agosto a equipe do Ao Cubo se propôe a fugir um pouco do padrão das postagens anteriores, onde uma imagem apenas ilustra o texto. Agora o texto "ilustrará" a imagem, ou seja, partimos das imagens e através delas criaremos os textos. Espero que gostem. Bon Apettite!

Artista?Quem? transcreve imagem de .g


CLIQUE PARA AMPLIAR A IMAGEM

À Dois

ELA: e essa foto, lembra?
ELE: claro que me lembro.Você sempre tinha um sorriso pra mim
ELA: pois é, passado...
ELE: depois do primeiro mês até meu cabelo cortei por sua causa... meu idealismo foi por "água-baixo"
ELA: lembra que tínhamos combinado dizer quando um de nós não quisesse mais?
ELE: por quê será que não cumprimos a promessa? tínhamos total noção de que o ser humano é sempre composto por outro. um par
ELA: é mesmo. um par...para a roupa, o corpo
ELE: para a empresa, cliente
ELA: todo artista usa uma máscara. toda mãe tem o filho pra criar
ELE: todo irmão tem outro irmão pra acompanhar ou até memso brigar
ELA: toda banda tem um fã...apesar de que a sua nunca teve nenhum!
ELE: (RISOS) não tinha mesmo...todo pacifista morre violentamente
ELA: todo cidadão com mais de 60 primaveras tem uma história pra contar
ELE: toda beleza precisa dos olhos alheios para ser admirada
ELA: pois é, já notou que existem coisas que só podem ser feitas à dois?
ELE: tipo o que?
ELA: dança, disputa
ELE: xadrez
ELA: conversa
ELE: luta!
ELA: abraço, beijo, SEXO!
ELE: você gostava do sexo?
ELA: ...e você ainda pergunta? claro!
(RISOS)
ELE: incrível, a gente ainda consegue rir de nós mesmos...pra quê terminar?
(SILÊNCIO)
ELA: não sei...vou pensar...não dá mais
ELE: não prevemos isso
ELA: na verdade ninguém prever que o amor pode se tornar amizade...
ELE: toda panela tem sua tampa
ELA: é. deixa estar
(SILÊNCIO)
ELE: guarde um "sim" pra mim
ELA: sim

14.8.06

Walker Cubano transcreve imagem de Artista?Quem?

CLIQUE PARA AMPLIAR A IMAGEM


O impacto do Buda Nagô

E lá estava eu, sentado, meio que largado no sofá da sala de casa, meio desatento como é de costume, quando repentinamente surge a imagem daquele homem na tela da televisão: Um homem magro, abatido, sentando em uma cadeira de rodas, vestido com uma blusa azul, cabelos brancos, olhar sereno, sorriso rasgado no rosto, era um homem feliz por está de volta à sua terra, era ele, o mestre Caymmi, Dorival Caymmi, 92 anos de história viva e lúcida para receber homenagens. E falar de Caymmi é falar da história da música popular do Brasil, de versos lentos acompanhados por um violão suave, embalados pela voz baiana, amor incondicional à Bahia, de 1914(ano de nascimento de Dorival) até os dias de hoje.
E me revirei no sofá, os olhos brilharam, parei, a desatenção sumiu, atenção, Caymmi voltou para receber o prêmio Jorge Amado de Literatura e Arte, e já não me importava se ele estava em cadeira de rodas ou com a fisionomia abatida, a sensação agora era de contentamento, alegria em ver. Temos( e me incluo neste “temos”) o péssimo hábito de fazermos homenagens póstumas, homenagens singelas e tocantes sim, mas homenagens póstumas, o sujeito morre e logo fazem uma homenagem póstuma. Aqui, acontecia de maneira diferente, era uma homenagem a um senhor de 92 anos, vivo, em perfeitas condições mentais de receber e entender tal homenagem, um alívio para os que odeiam(assim como eu) as malditas homenagens póstumas.
É, aposto com qualquer um que existem milhares de Marinas por aí que não sabem que existem uma música com seu nome, como também há muita gente que não sabe o que é que a baiana tem, e pessoas que desconhecem como é bom ver o mar em Copacabana. A vizinha do lado também não sabia que Caymmi compôs uma música só para ela, coincidentemente intitulada de “A vizinha do lado”, os apaixonados que não conhecem “Nem eu”, não estão apaixonados e os pescador que nunca cantarolou “um pescador tem dois amor, um bem na terra, um bem no mar...”, da mesma forma não possui histórias para contar...
E ver Dorival (intimidade de baiano para baiano) foi de uma emoção indescritível para este jovem de 21 anos, porque ouvir, ler ou simplesmente ver a imagem de Caymmi é ter a sensação de está em paz consigo mesmo, é se sentir em plena festa de Iemanjá nas tardes das rotinas enfadonhas, é viver deitado na rede branca, debaixo de um coqueiro, esquecer o trânsito infernal, a falta de educação e a violência da Bahia dos dias de hoje. E em instantes estava bem, de férias da minha alma e com orgulho de ser baiano, sandálias de couro no pé, ou simples havaianas de dedo (como se dizia antigamente) E em tempos de efemeridade, na vida e na música, foi tão bom revê-lo, em dias de pseudos- versos, batuques mal batucados, sambas que se transformaram em pagodes mal pagodeados, fiquei feliz. A história permanece viva, a alegria, a música e o talento continuam “aí” para quem quiser ver, para quem quiser ouvir e para quem quiser ver
(como eu vi) e aprender um pouco mais. Ninguém vai cantar Itapoã como Caymmi cantou, ninguém vai cantar e contar a Bahia como Caymmi cantou e contou. Levantei do sofá, abri a janela, olhei para o céu, o sol brilhava, não havia uma nuvem se quer naquele emaranhado de tanto azul, coloquei meu chapéu de palha e decidi: Vou para Maracangalha!


* Para Luana Rocha e Pedro Caldeira



Para ler ouvindo-

Para Caymmi, de Nana, Dori e Danilo - 90 Anos (de Nana Caymmi, Dori Caymmi e Danilo Caymmi),
Caymmi 90 Anos - Mar e Terra(Cantores diversos)
Ao mestre, com carinho (de Claudio Nucci).

Para ouvir lendo-
· Dorival Caymmi – O Mar e o Tempo. (Editora 34), de Stella Caymmi, 2001
· Cancioneiro da Bahia, Dorival Caymmi. (Editora Record),1978
· Dorival Caymmi SongBook. (Lumiar Editora - 2 Volumes), de Almir Chediak, 1994


Discografia do artista disponível em: http://www.sombras.com.br/dorival/dorival.htm#discografia