25.5.07

por Artista?Quem?

Estranho Conhecido




Será que é? Senão é, como há de ser? Mais denso, mais curvo, mais calmo, mais calvo? Talvez menos tenso, menos encolerizado, com mais limites entre o certo e o errado, o “não” e o “sim”, com mais clareza, sem meias palavras e jogos. Disseram-me que seria como dançar feliz sem música de fundo, como ouvir sem que o outro precise dizer, seria como Tom Jobim, Vinícius, Chico, Cartola e Noel numa mesma canção, como Niemeyer e Phillipe Starck assinando um mesmo projeto, seria como um dia com 48 horas de duração e sem trabalho, como um Carnaval eterno. Embora muitos preguem que se pareça com um enforcamento ou um casamento com a dor, um labirinto, um querer quase escravo, uma autoflagelação, e fujam dele, muitos continuam a buscá-lo sem saber o porquê. Será eterno?Durará até o próximo inverno? Estarei um dia de terno no altar? Pode ser que tudo que eu tenha como evidência da sua existência não seja de fato válido e a humanidade inteira esteja errada: o pulsar mais forte, o querer bem, o sofrer junto, a euforia, a saudade, a presença enquanto um se faz ausente, o dormir abraçado, o cantarolar pela manhã, o andar de mãos dadas, o rir de si mesmo, o pensar no futuro, o “eu te amo”, não valham de nada. Provavelmente sejamos todos loucos. Loucos pela felicidade, de um otimismo exacerbado, de um desprendimento com o futuro e com o ridículo. Loucos, como dois camicases que não conseguem jogar o avião, dois homens-bomba medrosos, loucos por um sentimento que não conhece nem a nascente nem o poente. Talvez seja como um feto eterno que nunca virá à luz, um desconhecido. Um estranho conhecido. O amor.



dedicado a Manuela



Imagem: "My Hearts Bleeds no More" de Endorphine

14.5.07

por Walker Cubano

Ao povo de santo



Vida em prol da fé, da crença

Em oração pedimos, em cada súplica

Quilômetros, procissões de quê?

De fé, Jesus, Buda e Alah, velas e crenças

Distintos, sincretismos e misturas, efêmeros e diferenças

De Santo Antônio, Santa Bárbara, São Jorge

É Ogum, Oxum, Oxossi, Iansã

Da procissão ao terreiro

Contas se fundem com terços e velas

Procissões, de tantos e tantas, descrenças

Beatas, cantam, sussurram leve ao ouvido

Fusão de cores, velas, pés inchados

A crença descrente, a dor que não dói, o amor que não ama

Do povo sofrido, da seca, do calor do sertão

De gente que chora, que diz amém e agradece por um pouco de farinha

Dos meninos dos pés descalços, do rancor, da fome

Gente que tem santo e nosso senhor na parede, a benção...

Deus lhe ajude, lhe pague e lhe dê em dobro

Carece não, seu moço

O canto para curar, o santo para abençoar, a fé para crê

Duas, três, quatro, cinco beatas, véus de renda, missão

De quem segue meu padinho pade Ciço, de Juazeiro do Norte

De quem pede, Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo...

Para sempre seja Deus louvado

De quem segura na mão de Deus e vai, de quem nunca foi, todos iremos

Em romaria, em prece, em pau de arara, em busca das “melhoras”, eles vão

Sigam, segue, seguimos

Na estrada de barro, com o chapéu de palha e o lenço na cabeça

Com a enxada, suor no resto e força bruta nas mãos

Onde for nós iremos, onde for “nóis” vai

Quem te mandou aqui, Virgulino?

Não abençôo cangaceiro, Virgulino

Disse Padre Cícero à Lampião

Tudo pela crença do povo, da cidade ou do sertão

Abram alas para as crenças do povo, abram alas para as procissões de fé.




Imagem: Mario Bestetti da série "Romeiros de Pedro Batista"

Depois de um mês de merecidas férias (afinal trabalhamos bastante durante as férias) o Ao Cubo retorna alegria, tristeza ou felicidade geral da nação! o importante é que queremos continuar tirando nossos leitores da inércia que internet muitas vezes se torna.


estamos de volta de novo mais uma vez!
sintam-se em casa, entrem, fiquem a vontade e não reparem a bagunça