13.12.06

por Artista?Quem?


Meteorolozofia


Texto escrito na semana de 16 à 23 de outubro de 2006.


Não pára de chover em Salvador. Numa cidade litorânea como essa a chuva cria um desconforto duplo: 1°, devido a falta de adequação da cidade ao enfrentar “temporais” como o de agora e 2°, pelo fato de que está sempre latente no imaginário popular que na Bahia nunca chove, e que naquele momento poderiam estar na praia (embora a maioria tenha mesmo é que trabalhar!).
No percurso que faço de casa até a faculdade (boa parte da orla marítima da cidade, da praia de Piatã ao porto da Barra) observo um céu escuro, pessoas tentando se proteger da chuva com agasalhos e guarda-chuvas, ciclovias comumente lotadas de bicicletas e pedestres agora vazias, barracas de praia às moscas e um trânsito engarrafado a minha frente me levam a concluir que embora incômoda pra muitos em determinados momentos, a chuva tem sim sua função! Não, não pense que falo da sua colaboração com a natureza, o ar, as plantas, etc... Não é isso. Ela nos faz lembrar que não podemos ter controle sobre tudo. Que estamos sujeitos a algo ou a alguém.
Não sei se por Id, ego, ou incontrolável avanço, estamos sempre tentando controlar as coisas à nossa volta, como o controle remoto da TV, carros, pessoas, horários, o próprio corpo, a comida, matérias primas, remédios, etc. E inevitavelmente, o homem como ser participante de uma sociedade - seja ela qual for – está sujeito a inúmeras relações de poder e controle: Pai/ filho, Professor/ aluno, Patrão/ empregado, Médico/ paciente, e assim por diante.
Acredito que a chuva vem justamente pra “desorganizar” essas relações de poder e colocar nossos “pés-no-chão” quanto ao fato de sermos todos da mesma matéria, mostrar que ela molha tanto a mim quanto a você. É como estar nu. Sem roupas e adornos (que por si só também já estabelecem uma relação de poder) somos todos (+ ou -) iguais.
Há quem prefere se render às forças da natureza do que lutar contra ela. Dançam, jogam bola, correm na praia, lavam roupa, beijam na chuva... Também prefiro compactuar com ela, aproveitar o “barulhinho bom” da chuva na telha, um bom café, uma rede com um bom cobertor, um bom livro, uma boa música, ou escrever um texto curto como este, afinal, o sono já vem chegando e nada melhor do que dormir com chuva...



ILUSTRAÇÃO: fotografia de Spencer Tunik

13.11.06

por Walker Cubano



Senhor Samba

Já não me sinto mais só, tenho ao meu lado o violão
Tristeza, mágoas e sofrimentos trago mais não
Mesas de botecos, um bom papo, caixa de fósforo
Chapéu e roda de samba, petisco e cerveja gelada
Cenário de meus vícios, olhos marejados de felicidade, canta canário
Vitrola toca Bezerra, alma toca amor, desprezado por ela
O samba me salva, o samba me salvou
Eu sei das coisas, sei de coisa nenhuma, só sei do samba
O samba me salva, o samba me salvou
Ele cura as mágoas, o tempo e a dor
Saravá ao senhor dos ritmos e cadências, de pandeiros e tan tans
Das tardes ensolaradas e das noites intermináveis também
Das rodas, dos tempos, da boemia e da eternidade
De Cartola, Noel, Bezerra, Donga, Clementina e Nelson Cavaquinho
O homem todo de branco, o cigarro no canto da boca, o sapato e o chapéu
Reverências à malandragem, reverências ao senhor, reverências aos mestres
Sobe e desce o morro, o morro dos meus sentimentos, morro das minhas devoções

Saúdo e venero o samba
O samba me salva, o samba me salvou
Ele cura as mágoas, o tempo e a dor
Perdão se erro ou se errei, mas, é que sem ele não sei viver
É que nasci por lá, me criei nas ruas e nos botequins
Nas praças e esquinas, nos cabarés e no colo das meninas
Vivo e viverei por ele, perdão se erro, perdão se errei
Eu sou o samba, ele me salva, ele me salvou
Ele cura as mágoas, o tempo e a dor




ILUSTRAÇÃO: Artista?Quem?

23.10.06


por .g

céu de areia, céu deserto (transtorno bipolar)
sou um deserto na noite
gélido
com uma miragem pra me desviar da realidade
mil camelos pisoteando minha superfície
sem oásis para um breve revigor
cada grão de areia em mim equivale a uma estrela do céu nublado que vejo agora
lá estou
meu corpo é o céu
em queda livre
célula por célula
estrela por estrela
cometa por cometa
planeta por planeta
meteoro por meteoro
atmosfera por atmosfera
como saber por qual meio me guiar?
caio
levito
e me encontro
agora sou um só
ponto
*******
Então, depois de algum tempo de um certo chá que vinha eu tomando (de uma erva cujo nome, se a memória não me falha, é sumiço) decidi voltar. E volto postando um escrito que viria a ser a 2ª parte da série de textos megalomânos pseudo-caeirianos do tipo 'eu sou a natureza, eu sou as flores e as árvores e os montes e o sol e o luar e, por conseguinte, digo logo que sou Deus'.
*******
Umas linhas sobre a ilustração:
"Chuva de meteoros ilumina o céu do deserto próximo a Amã, na Jordânia. Conhecidos como estrelas cadentes, os meteoros são grãos de rochas soltos no espaço. Quando batem na atmosfera da Terra e atravessam a camada de gases que protege o planeta, eles se aquecem e desmancham no ar, formando um risco de luz ." (Folha de S.Paulo, 12/08/04)

29.9.06

por Artista?Quem?


O Impostor


NOME: João Venâncio de Souza
NACIONALIDADE: brasileiro
NASCIMENTO: 1° de Abril


MENTIRAS VERDADEIRAS OU MENTIRAS SINCERAS:
(dos 0 aos 3 anos)

-- João sorri de volta a todos q lhe apresentam um belo sorriso ou sacodem uma chave ou fazem cócegas em sua barriga. João chora quando sente medo, quando sente frio, quando faz cocô, quando sente fome, e sempre q é contrariado

LOROTAS OU MENTIRINHAS
(dos 5 aos 10 anos)

--João constrói cidades imaginárias com caixas de fósforo, dirige carros super velozes, se torna Jaspion, o Super-Homem, Batman e o Homem-Aranha na mesma semana, e combate o mal
... e pra ele tudo isso é verdade

ILUSÃO OU DISTORÇÃO DA REALIDADE
(dos 11 aos 17 anos)

-- João transa com as melhores “modelo-atriz-apresentadora de Tv -dançarina” capas de revista masculina sem sair do seu próprio quarto, ele também “fica” com a maioria das colegas de classe (embora seus amigos nunca vejam). Ele vai ser jogador de futebol, acredita que seus pais vão se casar novamente, ele vai parar de dirigir sem carteira de motorista


FRAUDE OU QUASE A REALIDADE
(dos 25 aos 30 anos)

-- João se forma em Direito(embora goste mesmo de Cinema), se torna o orgulho da família. O herdeiro do nada continua vivendo, consegue um emprego, o escritório é pequeno, é verdade, mas ele será o melhor advogado da cidade! O tempo passa e ele começa a faltar ao trabalho por sérias razões simuladas como dor de dente, de cabeça, morte em seqüência dos parentes. Mas ele ainda ama advogar!

A REALIDADE OU VERDADES INDESEJÁVEIS
(doa 30 aos 45 anos)

-- João se casa com uma mulher de beleza estonteante, a perfeita dona-de-casa. Nascem os filhos. O tempo passa e desgostoso ele começa a falar a verdade, e perceber: a esposa (não tão perfeita, não tão bela), a vida (pura ficção), verdades falsas... Já não são mentiras quase sinceras do tempo de bebê, que só serviam pra conseguir o desejado, nem as invenções do imaginário de criança só pra divertir, ou a mentira atrelada ao desejo de aceitação social da adolescência, muito menos uma mentira simples pra faltar ao trabalho. Descobre as imperfeições, começa a ser sincero, começa a morrer lentamente ...não vê graça na realidade... foi adoecendo sem saber por que, já não andava, balbuciava poucas palavras, o olhar sempre estava parado. João morre. De acordo com os médicos de morte natural (?). Seu último pensamento foi a lembrança da mãe dizendo:
-- Mentira tem perna curta menino!



ILUSTRAÇÃO: Artista?Quem?
EDIÇÃO DE TEXTO: Matheus Morais

25.9.06

por Walker Cubano



Sem Razão

E o amor não surge, o amor se faz amor, por ser amor
Ele se faz eterno e se manifesta de diversas formas, basta enxergar
Amor se faz em vida, em presença e em companheirismo, o amor se faz e pronto
Não existem razões, porquês ou explicações, amor se sente
E se busca, tenta-se, choram por ele, é amor, indiferente a você
Em versos, letras ou rimas, chega acompanhado, carregado,calado
Quem faz alarde é você, que se esconde dele quando ele chega, ninguém o convidou
E eu não o entendo, você também não, aposto
Mas não está só no outro, está só no outro se o outro quiser
E decepciona, cala, entristece, abre caminhos, mostra possibilidades
E você oferece a quem nunca o mereceu, e você vulgariza o verbo amar
E diz Eu te amo para qualquer um, tolice, a vida ensina
O tempo soluciona as dores, apaga os estragos e inibe o sofrimento
E as horas mostram que o amor nunca acaba, se esconde, como uma doença fatal
E são tantos porém, entretanto, como, talvez...
Tudo se constitui em amor, família, amigos e o amor em si
Esmiúce o tal amor, viva, sinta e ame
Erre por amor e quem nunca errou?
Ame por amor e quem nunca amou?
E nunca siga os conselhos de quem ama




Para meu avô Ciro, um amor eterno e inesquecível, apesar dos diferentes planos espirituais.
Para minha mãe, que me ensina a arte de amar todos os dias de maneiras distintas.
Para minha irmã e meu pai, amores que estão tão longe geograficamente de mim.
Para todos aqueles que eu amo e que um dia eu amei.
Para meus amigos, amores escolhidos ao longo da vida.

ILUSTRAÇÃO: fotografia "Bodas" de Artista?Quem?

19.8.06


Ao longo do mês de agosto a equipe do Ao Cubo se propôe a fugir um pouco do padrão das postagens anteriores, onde uma imagem apenas ilustra o texto. Agora o texto "ilustrará" a imagem, ou seja, partimos das imagens e através delas criaremos os textos. Espero que gostem. Bon Apettite!

Artista?Quem? transcreve imagem de .g


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À Dois

ELA: e essa foto, lembra?
ELE: claro que me lembro.Você sempre tinha um sorriso pra mim
ELA: pois é, passado...
ELE: depois do primeiro mês até meu cabelo cortei por sua causa... meu idealismo foi por "água-baixo"
ELA: lembra que tínhamos combinado dizer quando um de nós não quisesse mais?
ELE: por quê será que não cumprimos a promessa? tínhamos total noção de que o ser humano é sempre composto por outro. um par
ELA: é mesmo. um par...para a roupa, o corpo
ELE: para a empresa, cliente
ELA: todo artista usa uma máscara. toda mãe tem o filho pra criar
ELE: todo irmão tem outro irmão pra acompanhar ou até memso brigar
ELA: toda banda tem um fã...apesar de que a sua nunca teve nenhum!
ELE: (RISOS) não tinha mesmo...todo pacifista morre violentamente
ELA: todo cidadão com mais de 60 primaveras tem uma história pra contar
ELE: toda beleza precisa dos olhos alheios para ser admirada
ELA: pois é, já notou que existem coisas que só podem ser feitas à dois?
ELE: tipo o que?
ELA: dança, disputa
ELE: xadrez
ELA: conversa
ELE: luta!
ELA: abraço, beijo, SEXO!
ELE: você gostava do sexo?
ELA: ...e você ainda pergunta? claro!
(RISOS)
ELE: incrível, a gente ainda consegue rir de nós mesmos...pra quê terminar?
(SILÊNCIO)
ELA: não sei...vou pensar...não dá mais
ELE: não prevemos isso
ELA: na verdade ninguém prever que o amor pode se tornar amizade...
ELE: toda panela tem sua tampa
ELA: é. deixa estar
(SILÊNCIO)
ELE: guarde um "sim" pra mim
ELA: sim

14.8.06

Walker Cubano transcreve imagem de Artista?Quem?

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O impacto do Buda Nagô

E lá estava eu, sentado, meio que largado no sofá da sala de casa, meio desatento como é de costume, quando repentinamente surge a imagem daquele homem na tela da televisão: Um homem magro, abatido, sentando em uma cadeira de rodas, vestido com uma blusa azul, cabelos brancos, olhar sereno, sorriso rasgado no rosto, era um homem feliz por está de volta à sua terra, era ele, o mestre Caymmi, Dorival Caymmi, 92 anos de história viva e lúcida para receber homenagens. E falar de Caymmi é falar da história da música popular do Brasil, de versos lentos acompanhados por um violão suave, embalados pela voz baiana, amor incondicional à Bahia, de 1914(ano de nascimento de Dorival) até os dias de hoje.
E me revirei no sofá, os olhos brilharam, parei, a desatenção sumiu, atenção, Caymmi voltou para receber o prêmio Jorge Amado de Literatura e Arte, e já não me importava se ele estava em cadeira de rodas ou com a fisionomia abatida, a sensação agora era de contentamento, alegria em ver. Temos( e me incluo neste “temos”) o péssimo hábito de fazermos homenagens póstumas, homenagens singelas e tocantes sim, mas homenagens póstumas, o sujeito morre e logo fazem uma homenagem póstuma. Aqui, acontecia de maneira diferente, era uma homenagem a um senhor de 92 anos, vivo, em perfeitas condições mentais de receber e entender tal homenagem, um alívio para os que odeiam(assim como eu) as malditas homenagens póstumas.
É, aposto com qualquer um que existem milhares de Marinas por aí que não sabem que existem uma música com seu nome, como também há muita gente que não sabe o que é que a baiana tem, e pessoas que desconhecem como é bom ver o mar em Copacabana. A vizinha do lado também não sabia que Caymmi compôs uma música só para ela, coincidentemente intitulada de “A vizinha do lado”, os apaixonados que não conhecem “Nem eu”, não estão apaixonados e os pescador que nunca cantarolou “um pescador tem dois amor, um bem na terra, um bem no mar...”, da mesma forma não possui histórias para contar...
E ver Dorival (intimidade de baiano para baiano) foi de uma emoção indescritível para este jovem de 21 anos, porque ouvir, ler ou simplesmente ver a imagem de Caymmi é ter a sensação de está em paz consigo mesmo, é se sentir em plena festa de Iemanjá nas tardes das rotinas enfadonhas, é viver deitado na rede branca, debaixo de um coqueiro, esquecer o trânsito infernal, a falta de educação e a violência da Bahia dos dias de hoje. E em instantes estava bem, de férias da minha alma e com orgulho de ser baiano, sandálias de couro no pé, ou simples havaianas de dedo (como se dizia antigamente) E em tempos de efemeridade, na vida e na música, foi tão bom revê-lo, em dias de pseudos- versos, batuques mal batucados, sambas que se transformaram em pagodes mal pagodeados, fiquei feliz. A história permanece viva, a alegria, a música e o talento continuam “aí” para quem quiser ver, para quem quiser ouvir e para quem quiser ver
(como eu vi) e aprender um pouco mais. Ninguém vai cantar Itapoã como Caymmi cantou, ninguém vai cantar e contar a Bahia como Caymmi cantou e contou. Levantei do sofá, abri a janela, olhei para o céu, o sol brilhava, não havia uma nuvem se quer naquele emaranhado de tanto azul, coloquei meu chapéu de palha e decidi: Vou para Maracangalha!


* Para Luana Rocha e Pedro Caldeira



Para ler ouvindo-

Para Caymmi, de Nana, Dori e Danilo - 90 Anos (de Nana Caymmi, Dori Caymmi e Danilo Caymmi),
Caymmi 90 Anos - Mar e Terra(Cantores diversos)
Ao mestre, com carinho (de Claudio Nucci).

Para ouvir lendo-
· Dorival Caymmi – O Mar e o Tempo. (Editora 34), de Stella Caymmi, 2001
· Cancioneiro da Bahia, Dorival Caymmi. (Editora Record),1978
· Dorival Caymmi SongBook. (Lumiar Editora - 2 Volumes), de Almir Chediak, 1994


Discografia do artista disponível em: http://www.sombras.com.br/dorival/dorival.htm#discografia

30.7.06


Dos ruídos inaudíveis
_______
Por .g


Nesse exato instante, ouço um disco ímpar. Trata-se de Brad Mehldau, um jazzista contemporâneo, de sonoridade bem peculiar, pungente, caracterizada por suas desconstruções, reconstruções e improvisações. No disco em questão, "Solo Piano - Live in Tokyo", Mehldau interpreta desde clássicos do jazz --como "Things Behind the Sun", do ultra-intimista Nick Drake ou "From This Moment On", de Cole Porter-- à música moderna e experimental do Radiohead --aqui representada por "Paranoid Android", canção que o pianista reconstruiu num arranjo de aproximadamente vinte minutos de duração, sendo que a versão original tem pouco mais de seis minutos.

Mas não quero concentrar aqui minha visão sobre a quintessence da arte de Mehldau; não tenho a pretensão de me aprofundar numa análise sobre o artista. O que tenho reparado ao ouvir "Live in Tokyo" são os pequenos sons, aparentemente inaudíveis e insignificantes para boa parte de quem os ouve. Atenho-me ao som, por exemplo, do movimento dos pedais do piano (o impacto do metal com a madeira), dos aplausos, ou do tossir de alguém da platéia no final de uma música.

O mesmo me ocorre ao ouvir um disco de Björk, Vespertine Live, versão ao vivo do disco no qual ela --no intuito de criar uma atmosfera fantástica, paradisíaca, etérea-- utilizou, dentre coral, beatboxes e orquestra, uma caixa de música em algumas das canções. Em Vespertine Live, é possível ouvir o som das engrenagens da caixa de música, o girar da manivela antes de se iniciar "Pagan Poetry", o regente Simon Lee folheando o livro de partituras, o som do sal grosso --que também funciona como “instrumento”-- numa caixa, pisado por M.C. Schmidt, um dos integrantes da dupla Matmos, convidada para participar das gravações e da turnê do disco.

Pois então, em minha parca filosofia de quem toma banho confabulando sobre as possíveis conspirações acerca da morte de Hafik Hariri, cheguei aqui pensando no quão interessante e prazeroso é ouvirmos os sons para os quais não damos importância no cotidiano, ou num simples CD, como é o caso.

Aplausos, assovios, tosses, vozes, pancadas, giros, suspiros, gritos, pigarros, microfonias, farfalhares, gargalhadas, distorções, rangidos, afinações, gemidos, plugues, grunhidos, desafinações, palhetadas, desplugues... todos esses pequenos sons nos acompanham, por vezes, música a música.

É curioso, mas um dos meus maiores prazeres ao ouvir "Parachutes", do Coldplay, por exemplo, é, ao início da primeira música do disco, sentir o som da palheta deslizando pelas seis cordas do violão, ainda abafadas com a mão esquerda de Chris Martin, antes que as mesmas tenham seus lugares devidamente ocupados com um acorde para que o som do instrumento invada meus ouvidos. Há também o inesquecível pigarro de Kurt Cobain, no início de “The Man Who Sold the World”, no “Unplugged in New York” do Nirvana, a gargalhada contida de Billy Corgan, dos Smashing Pumpkins, durante uma versão acústica de “Mayonaise”, ou os dedos de Caetano Veloso deslizando horizontalmente pelas cordas do violão ao trocar de acorde, gerando aquele ruído característico que sempre marca presença nos bons discos da nossa música brasileira.

São deliciosos barulhinhos bons, propositais ou não, mas sempre uma descoberta única a cada nova música.

Ouçamos mais esses sons, é um exercício para nossa atenção, desperta a audição (isso fica por minha conta), estimula nossas conexões neuronais (idem), nos trazem boas sensações. Eu recomendo. Afinal, se o grande sabor da vida é degustado nos pequenos prazeres do dia-a-dia, tenhamos então algo mais de Amélie em nossas vidas, já que nos martelam tanto a máxima de que “a vida é feita de pequenos prazeres, pequenas felicidades”. Prestemos mais atenção aos ruídos mínimos que nos cercam, dando vazão aos sentidos mínimos dos quais dispomos; sensibilidade é um pouco disso, acredito.

Mas, em verdade, isso é só a psicose de quem quer estuprar uma arte através de uma composição inepta, ou a parvoíce de um pobre blogueiro que, encurralado pela dúvida de postar um ou outro texto, acabou criando um terceiro ainda mais ridículo.

Bem, no mais é isso... Ah, e diga a toda a família que mandei um beijo.

(silêncio)



da ilustração: gentilmente cedida (?) pelo site the melancholy rhino - a sceptical manifesto

25.7.06

por Artista?Quem?


Quanto Mais Triste o Pranto Mais Bonito o Canto


Eis o amor! Belo quando não trágico! Seja com mais ou menos freqüência, a música, que para muitos serve de “muro das lamentações” nos momentos de “dor de cotovelo”, sempre tem como tema recorrente os acertos e desencontros da relação a dois. Quem de nós nunca ouviu uma música no rádio após o termino de um namoro e disse:
-- Parece que este trecho da música foi escrito exatamente pra mim!
Pois é amigo, nessas horas toda e qualquer canção lembrará “daquela pessoa”, “daquele lugar” e “daquele momento”...
Ao longo dos anos a música brasileira tem se proposto a ser a trilha sonora de inícios e términos de relacionamentos e, independente do estilo musical, tem feito isso com êxito.
A palavra “bossa” era um termo da gíria carioca que no fim dos anos 50 significava ‘jeito’, ‘maneira’, modo.No caso da BOSSA-NOVA o ‘modo’ de, tratar o amor é sempre com leveza, embora visto muitas vezes com tristeza. Aparecem com freqüência canções que são verdadeiros galanteios à mulher amada. Uma poesia mais “falada” do que cantada, idealizada na figura da classe-média carioca, tendo como cenário perfeito a praia e, principalmente, o mar. Remetendo a tons pastéis e a uma “alegria triste”, em que ‘a tristeza é a esperança de um dia não ser mais triste’, como cantou Tom Jobim. A BOSSA-NOVA é sobretudo letra expressa da forma mais intimista possível.
Já o amor passional é fruto do ROCK brasileiro. É o “choro escondido”, é falar de amor sem querer falar de amor. A paixão sofrida e urbana nas metrópoles. Pessimistas em sua maioria, as músicas geralmente falam das brigas e dos “porquês” até chegar ao trágico fim do relacionamento. Como entoou Cazuza nos anos 80: “ Exagerado, jogado a seus pés eu sou mesmo exagerado!”. Eles eram realmente muito exagerados...
O BREGA, não menos legítimo do que qualquer outro estilo, fala com autoridade e irreverência sobre o assunto. O tema é sempre tratado com experiência, como um relato, um ensinamento que está sendo passado por meio da música. Histórias de traições e desilusões amorosas, uso indiscriminado de eufemismos, explosão de cores, estampas grandes, uma certa dose de ingenuidade e como não poderia faltar ( afinal algum estilo musical teria de tratar do problema) “A Dor de Corno!”. É honesto ao tratar da dor.
De 1917 até agora, este sentimento grandioso tem tido o privilégio de passar pelo canto de nomes como Noel Rosa, Cartola e Lupicínio Rodrigues, por meio da simplicidade complexa do SAMBA. Um amor visto de forma descontraída, ‘na malandragem’, otimista quando não, debochada. Apesar de ter como pano de fundo o morro e a pobreza, o SAMBA sempre sorri, chora e ri na leveza do ser.
Platônico, triste, bem-humorado ou transgressor, o amor sempre será o tema perfeito para a trilha sonora do dia-a-dia.



“...o nosso amor não vai olhar para trás, Desencantar, nem ser tema de livro, Leidiane, Leidiane eu te Peço pra você voltar! Por você eu aceitaria a vida como ela é, viajaria a prazo pro inferno, eu tomaria banho gelado no inverno. Preste atenção querida, embora eu saiba que estás resolvida em cada esquina cai um pouco tua vida. Em pouco tempo não serás mais o que és...”



Discoteca básica pra vc q começou, terminou, vai começar ou terminar um relacionamento. Ouça e reflita:

Bebel Gilberto – Tanto Tempo
Gram – Gram
Cartola – Cartola
Moska – Eu Falso da Minha Vida o que eu Quiser
Jacuípe – EP
Seu Jorge – Cru
Odair José – Só Pode Ser Amor
Los hermanos – 4
Frejat – Amor pra Recomeçar
Soma – Dramorama


Obs.: aceitamos sugestões de discos pra aumentar a lista


ILUSTRAÇÃO: Artista?Quem?

19.7.06

por Walker Cubano


Parodiando meu amigo Getúlio Gomes, uma nota preliminar.
Essas idéias mal escritas se reavivaram em mim em virtude do fim do relacionamento de um amigo, tirei do fundo do baú e as trouxe para cá, então o texto é dedicado ao sempre amigo Jacuípe!


Idas e vindas

Luz de seis e meia, intuição, batidas na porta
Batidas de sentimento, amor, entrou, invasão
O mesmo perfume, o mesmo olhar, instalou- se
A mesma luz, a mesma graça, era você
Disse eu te amo, sim, eu te amo, calou-se
Mesas, cadeiras, vitrola e discos na estante, sentou-se
Conversou, sorriu, desviou o olhar, levantou-se
Não vá embora, fique, mais um dedo de prosa, chorou
Pra que o choro, exprimiu sentimentos, gesticulou, atendeu ao telefone
Voltou para mim, perdão, problemas, abraçou-me
Senti mais uma vez, fusão de coisas boas, era você de novo, afastou-se
Exigiu, impôs regras, tolices, bobagens, ela iria voltar, sorriu outra vez
Levantei-me, gritei, volte, vamos, volte, olhei nos olhos, sentei
Eu não te quis, eu não te quero, mentira, me enganei, me aproximei
Vozes confundem, vozes interiores, abriu a porta
Volta para mim, para casa, saiu, corri, atrás dela, atrás de tudo
Largos, avenidas, sinal vermelho, amarelo, verde, corria e não alcançava, estava longe
Tão longe que a vista não enxergava, turvo, mosaicos, tudo estava tão cinza, tudo se tornava blasé
Como em um flashback as cenas voltavam, o beijo, o abraço, o primeiro eu te amo
Voltei ao sentimento dentro de mim, estranhos, sentimentos estranhos, ela não estava lá
Existem sentimentos que não voltam, existem pessoas que não voltam, só resta a dor de uma perda.



ILUSTRAÇÃO: Artista?Quem?

9.7.06


Até 2010!

Nos meses de junho e julho, o blog acompanhou a Copa do Mundo com suas postagens relacionadas ao assunto.

O caneco não voltou pra cá. Daqui a 4 anos voltaremos a torcer por sua volta.

É isso, a Copa terminou, a Itália venceu, mas nossa vida não tá ganha.
Crê, é sobre Ronaldinho (ou O verdadeiro fenômeno)

_______
Por .g


Notas preliminares:

- O texto que segue foi escrito antes do término da Copa do Mundo.

- Nenhuma verba foi concedida pela Nike, Santander, Kibon, Bubbaloo, Omo, Pepsi, Oi, Rexona e outros para a composição deste artigo.



No dia 21 de março de 1980, numa chácara próxima a uma cinzenta cidadezinha localizada ao sul da Inglaterra, ocorreu um fenômeno raríssimo e irreprisável. No exato instante em que um passarinho deixava escapulir um fruto (pequeno demais para nossas mãos, mas grande o suficiente para não encaixar em suas garras), um saco plástico se encontrava pairando no ar, tal qual uma pluma, voando ao sabor do vento. De súbito, eis que o fruto, caindo do céu, entra perfeitamente dentro do saco plástico, que bailava ao ritmo do vento. Este, com o advento do fruto entrando na sacola, não mais ofereceu resistência àquilo que parecia ser um evento único, embora tenha sido testemunhado somente pelo pobre pássaro, que perdeu sua refeição. Ambos -- fruto e saco -- caíram num poço concluindo a seqüência de duas metas.

Exatamente nesse mesmo dia -- enquanto o Presidente norte-americano Jimmy Carter anunciava o boicote americano aos Jogos Olímpicos de Verão em Moscou como forma de protesto pela Invasão Soviética do Afeganistão -- na Zona Sul de Porto Alegre, mais precisamente no bairro de Vila Nova, uma mulher de baixa renda, Miguelina de Assis Moreira, entrava em trabalho de parto para o nascimento daquele que, vinte e seis anos depois, sendo considerado o melhor jogador de futebol do mundo (e, para mim, de todos os tempos), estaria se preparando para seu segundo mundial: Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho.

Com a carreira futebolística iniciada aos sete anos de idade, no Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, Ronaldinho atraiu a atenção do mundo ao marcar um gol absolutamente inesquecível, dentre os sete marcados na partida em questão, no jogo contra a Venezuela, quando ele deu um chapéu no zagueiro e chutou no canto do gol. A partir daquele instante, grandes clubes passaram a desejá-lo com tal veemência, que por um tempo foi necessário à direção do clube colocar uma faixa na entrada da sede avisando que o jogador não estava à venda.

Mas Ronaldinho já resplandecia demais para não se permitir assinar um contrato com um clube de maior porte. Seria um passo fundamental para seu crescimento na carreira de jogador, levando-se em consideração a precariedade dos clubes brasileiros -- principalmente por parte dos cartolas que tratam o futebol como um negócio de exportação -- em comparação aos grandes clubes europeus. Foi então que, com uma proposta do Paris Saint Germain, o Grêmio, numa atitude de transigência em que já não era mais possível outra opção, aceitou a idéia da despedida.

Atualmente, depois de passar um por um período de quase ostracismo no PSG, Ronaldinho tem dividido as atenções com seus colegas no Barcelona. Enquanto grandes jogadores emergentes do Barça, como Eto'o, Deco, Messi etc, tentam brilhar diante de luzes, câmeras e cartolas, em busca dos seus devidos lugares ao sol, O Gaúcho ofusca em absoluto, é único, o melhor, duas vezes incomparavelmente melhor.

Agora, ele busca mais uma vez ser o grande showman, como é chamado pelos que admiram sua arte no Barcelona, numa Copa em que a força e a pura objetividade direta tentam ao máximo sobrepujar a técnica, a arte e a alegria típicas do nosso futebol. Dentre músculos e ausência de técnica, saímos em vantagem, com uma equipe repleta de estrelas. É bem verdade que uma delas não conseguiu brilhar tanto quanto se era esperado. Pena que não o colocaram em seu devido lugar e quando o fizeram era tarde demais. Pena que seja tanta estrela pra uma só constelação.

Confesso, sou daqueles que estufam o peito pra afirmar que Ronaldinho é um gênio da bola: joga brincando, sorrindo, como um grande artista o faz ao receber o aplauso da platéia. Atente-se ao movimento do Gaúcho em campo. Por certos instantes, a impressão que nos passa é a de que ele, a bola e até mesmo o campo transformam-se num só ser, numa simbiose mágica; relação sem necessidade de discussão. Cada um cumprindo seu papel no momento exato. E o faz com perfeição.

Ronaldinho é o maior do mundo não por falta de grandes jogadores. Hoje, há jogadores contemporâneos dele que, embora saibam manter um bom relacionamento com a bola, não conseguem sequer se aproximar do brilho de Ronnie (como os espanhóis se habituaram a chamá-lo). Falo de Zidane, Shevchenko, Henry, Eto’o, Riquelme ‘and the list goes on’…

Enfim, concluo: Ronaldinho é raro.
*******


Ilustração: indio


Para os incrédulos, um pequeno aperitivo da arte de jogar bola (youtube, please!).
Põe o dedo aqui

2.7.06

por Danusa Maria (correspondente feminina na Alemanha)


Por quantos times uma mulher torce



Mulher é sempre rotulada por não entender muito de futebol. Até porque, mesmo que nos esforcemos, ainda não conseguimos o respeito dos homens quando o assunto é a bola no pé. Darei um exemplo pessoal de que apesar de tentarmos fazer parte desse mundo, ainda precisamos entender um pouco mais do mundo futebolístico. Poderíamos começar, então, torcendo apenas por um único time...



Aos 12 anos, como por um impulso, resolvi torcer pelo Botafogo. Isso porque percebi que todos tinham um time do coração menos eu. Notei que o Botafogo havia ganhado um campeonato não sei de quê e o locutor estava elogiando os jogadores, então, achei que eles mereciam mais um na torcida. Decorei o hino, quis comprar camisa oficial e memorizei o nome de todos os jogadores em campo.
Campeonato vai, campeonato vem, comecei a sentir que um outro time me chamava para fazer parte da sua torcida. Virei corintiana numa época em que o timão estava com tudo, pois o campeonato brasileiro foi só um dos vários importantes títulos conquistados. O Corinthians estava tão bem na fita que fui esquecendo o Botafogo e nem o hino eu sabia mais cantar. Era timão pra cá, timão pra lá, “o campeão dos campeões” era pra mim superiormente inatingível pelos outros times. Jurei que teria até o fim da vida esse amor.
Até o dia em que paguei a língua e também esqueci o timão. A boa fase tinha passado e eu não sabia torcer por time que não ganhava partidas. Ah, para que torcer por um bando de pernas de pau? Foi-se hino, camisa, jogadores, tudo pro lixo. Depois de um tempo eu até me arrependi, porque o timão voltou a ganhar. Mas aí já era tarde demais.
Dessa época pra cá tentei torcer pelo Bahia, Vitória e até o Santos. Esse último eu tentei torcer porque tinha sido o time de Pelé e isso era motivo de honra pra mim. Mas meu critério de escolha em geral só tinha relação com o número de partidas ganhas; jeito bem feminino de escolher um time. Só não consegui torcer pelo Flamengo, apesar de ter tentado, porque nunca fui com a cara mesmo. Diante do marasmo em que se encontravam os clubes nacionais decidi torcer pelo Brasil. Dessa forma reunia todos os times em um só e não esquentava minha cabeça com campeonatos locais. Pronto! Daquele momento em diante era para o Brasil que iria torcer e, com isso, esperava ansiosa pelos jogos.
O problema foi que decidi torcer pelo Brasil justamente no momento em que o time estava bem fraco, perna-de-pau. Fui desencantando e perdeu a graça. Esqueci a seleção e fui buscar inspiração no exterior. Senti que era a vez do Real Madrid ser agraciado pela minha torcida. Achei o uniforme bonito e quem estava dentro mais ainda. Mas com o tempo pensei: “qual a graça de torcer por um time de fora do Brasil”? Eu não poderia ir aos jogos nos grandes estádios e, por isso, resolvi parar de torcer. Após o real Madrid fiquei um tempo no ócio, simplesmente sem time.
Foi então, quando eu estava completamente desligada do futebol, que veio a copa do mundo 2006. Um tal de Kaká pra cá, Ronaldinho Gaúcho pra lá, o quadrado mágico, hexa, ufa! Me rendi e fui abduzida pelo sentimento de Word Cup verde-amarelo e resolvi voltar aos velhos tempos com minha torcida pelo Brasil.
No momento “estou” torcedora da seleção brasileira. Não sei se vai durar muito tempo, por isso, torço para o Brasil ganhar a copa. Se ganhar, já decidi torcer apenas pelo Brasil. Mas se perder, vou esquecer o futebol de vez. Cansei de tentar entender a lógica desses homens que nascem e morrem torcendo por um só time...


ILUSTRAÇÃO: Artista?Quem?

16.6.06

por Walker Cubano


Em tempos de craque...

45 minutos do segundo tempo, tensão, aflição, todos esperam atentamente por um momento, um único momento, o golllllllllllllllllllllllllllllllll ! Racionalmente um gol não faria tanta diferença em dias comuns, não faria diferença para os ouvidos desatentos, para os cardíacos e para os hipertensos. Em época de copa do mundo os sentimentos afloraram, as emoções se reanimam, o patriotismo é exaltado. O futebol consegue se converter numa fração de segundos em religião, onde a bíblia é o juiz, o templo é o campo, os seguidores a torcida, os pregadores são o jogadores e a fé é o gol.
Copas e mais copas, envelhecemos a cada quatro anos e adquirimos experiências e assistimos a mitos e queremos sempre mais, queremos arte, pintura, pintores, craques, mitos de carne e osso. E por falar em craque, não me esqueço de um deles, por mais que não transpareça, eles estão em extinção, não, não enlouqueci, eles estão em extinção. Estados Unidos, 1994, foram diversas cidades, diversos gols, apenas sete jogos, apenas um nome. Um técnico “turrão”, um time desacreditado, medíocre na verdade, companheiros esforçados e um homem... No Brasil, garrafas quebradas a cada gol, era o camisa onze, lhes apresento o craque.
Definitivamente, craques não se fabricam, craques não se constroem, craques nascem prontos, craques só precisam se aprimorar para se transformarem em ídolos. Craque é aquele que dribla, que enxerga além, que pensa antes de lançar e que não titubeia, não “amarela”, como dizem. Esses, meus amigos, graças aos Deuses, ainda não estão em extinção. E quando falamos em craque, logo nos vêm à cabeça nomes como, Zico, Garrincha, Rivelino, Tostão, Pelé, Romário, e tantos outros. Vem a cabeça nomes que nos fizeram vibrar, chorar, pular, torcer de verdade, nomes que nos fizeram sentir raiva e sentir orgulho de ser brasileiro, um dia eles ainda irão descobrir como nos fazem sentir...
Na categoria craque um deles se destaca, um deles é Romário. Sujeito de nome incomum, de fala pausada, língua presa e declarações bombásticas, língua afiada e bola no pé. Ele foi símbolo de toda uma geração, nos representava ali dentro do campo, carregava consigo o gol, Romário sempre foi sinônimo de gol. Muitas vezes mal encarado, muitas vezes modesto e tantas outras debochado, o ídolo não só sabia mexer com a bola, como também sabia mexer com as palavras, Romário é o cara, Romário sempre foi o cara.
O “baixinho” dispensa comparações. Nunca teve a genialidade de um Pelé, nem a calma de um Zico, nunca teve a técnica de um Tostão e nem a precisão de um Gérson, nunca driblou como Mané Garrincha. Sempre foi Romário, e isso para ele sempre bastou, é e sempre foi Romário. Nunca gostou de treinar, sempre gostou de holofotes, camisas temáticas e choros incontidos. O ídolo é incomparável. Erra, e quem não o faz? O baixinho é gênio, o gênio da área, gênio do gol. Romário é gol. Vida eterna. Salve Romário!

ILUSTRÇÃO: Siegfried Woldhek

13.6.06

por Artista?Quem?


7 Jogos

8 anos de idade. Sem saber muito bem as regras, um garoto assiste aos jogos.Tudo uma verdadeira descoberta, inclusive a noção da vitória.
Sem mais preocupações, assisto aos 7 jogos (que passam rápido) sem noção de nada, de maneira inocente, assim como era também todo resto da minha existência, sem saber quanto custam às necessidades diárias (em termos financeiros e práticos), com pai e mãe heróis, em meio às brincadeiras e uma fantasia muito próxima da realidade, tão próxima, que acabados os jogos íamos eu e meus irmãos infernizar a vida da minha avó jogando bola dentro de casa e, justamente na sua sala de estar tão preciosa.
Sempre de última hora a seleção vencia as partidas com placares não maiores que com um gol de diferença, “no sufoco”: BRASIL 1 x 0 EUA, BRASIL 3x 2 HOLANDA, e o fatídico BRASIL x ITÁLIA nos pênaltis. No final tudo sempre dava certo, acreditava eu que na vida assim também seria.
Brasil vencedor da Copa do Mundo de 1994 após 24 anos sem conquista, pra mim a grande vitória é a descoberta de um esporte chamado futebol.

...

4 anos se passam e as emoções se renovam. Não as mesmas. Já conseguia perceber quanto delírio e fascinação exercia um jogador de futebol , tanto que me arrisco a entrar numa escolinha de futsal. O resultado não foi dos melhores. Depois de algum tempo sem poder ir a algumas aulas devido a uma gripe, pergunto a um colega de como estão as aulas de futsal, e ele me responde:
- Poxa! Desde que você deixou de frequentar as aulas melhoraram muito!
Sem traumas, percebi que a análise e não a prática em si do esporte seria o melhor caminho a seguir.
Novamente a seleção brasileira completa seus 7 jogos, porém sem tantas glórias. 7 jogos, 5 vitórias e 2 derrotas, umas destas na final do torneio contra a anfitriã França.
Eu com uma mentalidade de um aluno da 6° série do Ensino Fundamental, mal-acostumado às vitórias de uma Copa atrás, descubro que o Brasil também perde ( e já ñ adianta culpar o Jr. Baiano ou a convulsão de quem quer que seja!). Passo a me acostumar com a possibilidade iminente de vitória ou derrota, comum a qualquer jogo ou situação do dia-a-dia.

....

2002. O impossível ocorre novamente. 7 jogos completos, resultantes no Penta Campeonato! Admito que o favoritismo às vezes me incomoda, mas também traz consigo seu lado positivo. Para uma juventude acostumada à vitória nos gramados e a mazelas no Planalto, ela tem um gosto de aperitivo, já que o prato principal é a descrença acarrretada pelo PIB, IDH, pai desempregado, geladeira semi-vazia e ingresso na Rede Pública de Ensino.
Com jogos acontecendo durante a madrugada (devido ao fuso-horário de 12 horas do Japão e da Coréia), acordo religiosamente , independente de horário, e com total disposição, inclusive para assistir os jogos que não são da Seleção brasileira, e aprendo mais uma lição: a de pesar a importância das coisas (nesse caso a importância da Copa, justifica algumas faltas às aulas na escola).

...

Sem a inocência de outrora , sem a fantasia dos 8 anos de idade, já tendo descoberto que ninguém é invencível, com total noção de quanto custa para os pais nos manterem, sem a sensação de horizontes expandindo-se e os hormônios dos 16 anos de idade,, sem ser mais enganado pelo ufanismo do “Samba, Carnaval e Futebol!”, com vários trabalhos e provas da faculdade pra fazer, procurando emprego e namorada, e com milhões de sonhos a realizar, vou para minha 4° Copa do Mundo!
Incerto do amanhã. Feliz se o Brasil ganhar. Feliz se o Brasil perder.



ILUSTRAÇÃO: Artista?Quem?

6.5.06




Governo brasileiro contribui com a emissão de lixo espacial (e outras novas mais)
_______
por .g


Na falta do que fazer, na falta do que escrever: ler algumas manchetes cômico-siderais da BBC:

- Missão de astronauta brasileiro é adiada

- Sensação sobre 1º vôo é incrível, diz astronauta brasileiro

- Astronauta do Brasil é aprovado com 'notas excelentes'

- Ivan Lessa: Bandeirante audaz do azul (Colunista fala sobre o nosso primeiro astronauta ou babalorixauta)

- Astronauta brasileiro segue para o Cazaquistão

- Astronauta brasileiro partirá da base de onde saiu Gagarin

- Astronauta brasileiro tem o sorriso de Gagarin, dizem russos (Para treinadores, Marcos Pontes 'lembra' pioneiro dos vôos espaciais)

- Plano de resgate ajudará brasileiro na volta do espaço

- Ida ao espaço é realização de sonho, diz Marcos Pontes

- Base no Cazaquistão acumula 50 anos de entulho espacial

- Agência Espacial atrapalhou, diz médico de Pontes

- Marcos Pontes já tem foto no Museu Gagarin

- Soyuz é lançada levando 1º astronauta brasileiro

- Filha de Pontes diz que quer ser astronauta

- 'Vou sentir muita falta daqui', diz Marcos Pontes (Em coletiva a bordo da Estação Espacial, ele afirmou que ainda não pensa na volta)

- Pontes não terá lugar garantido ao voltar, diz Nasa

- Brasil quer treinar segundo astronauta

- New York Times: 'Astronauta é caroneiro ou herói?'

- 'The Guardian': Astronauta vira super-herói no Brasil

- Páscoa, herói e chocolate (Colunista entra em polêmica de quem viverá o astronauta Marcos Pontes nas telas)

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Veja você, o astronauta brasileiro foi ao espaço realizar experimentos. Em um deles, seu objetivo era testar as substâncias responsáveis por aquela luz característica dos vaga-lumes. No outro, observou sementes de feijão em ambiente de microgravidade. Abstenho-me de questionar a importância de seus devidos experimentos.

"O que nós gastamos para você ir ao espaço foi pouco perto do que você representa agora para o Brasil", disse Lula ao astronauta. Estima-se que o governo brasileiro tenha gasto US$ 10 milhões na viagem. Nunca a expressão "foi pro espaço" fez tanto sentido.

Juro que não queria difamá-lo. Juro que não era minha intenção transformar Pontes no meu novo Fabiano Augusto. Por isso, deixo as manchetes falando por mim (ah, e o pessoal do Casseta & Planeta também).

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Ah, já ia me esquecendo de outras poucas notícias; algumas mais fresquinhas que as anteriores, outras não mais tão notícias assim:

- Pimenta Neves pega 19 anos, mas sai livre - 05/05/2006 - A Tarde
- Dos 19 acusados de terem recebido mensalão, dez foram absolvidos no plenário - 05/05/2006 - Bom Dia
- Michelle Bachelet (a presidente do Chile) discute democracia e pobreza no Brasil - 11/04/2006 - BBC
- Educação no Brasil está entre as piores, diz Unesco (Pesquisa diz que níveis de alfabetização do país são semelhantes aos da Albânia e da Macedônia) - 01/07/2003 - BBC
- Brasil não deve cumprir meta da ONU contra pobreza, diz governo - 20/02/2004 - BBC
- Vietnã e Uganda 'superam' Brasil em redução da pobreza - 29/06/2005 - BBC

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Pra concluir essa minha pilha de desconchavos e baboseiras, um aforismo do vosso astronauta, publicado na revista Veja:
"Levei uma bola de futebol ao espaço, mas infelizmente não pude jogar por causa da ausência de gravidade”.
(Marcos Pontes, astronauta, relatando uma das raras dificuldades de suas experiências espaciais).

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Pós-escrito: pessoal, essa é uma postagem interativa. Agora que eu coloquei os fatos, teçam suas respectivas análises sobre o assunto e me enviem, já que eu fiz uma autopromessa de não falar mal do camarada Pontes. Podem utilizar o espaço reservado para os comentários. No mês que vem, o autor do melhor comentário será premiado com uma TV de plasma, de 42'', da Sony.



ILUSTRAÇÃO: POR DENIS SINYAKOV/AFP

28.4.06

por Artista?Quem?

SINA

Casa lotada. Parecia um dia de domingo,com o colorido e ansiedade das crianças, e cansaço satisfeito dos pais. Você pode pensar que eu já deveria ter me acostumado a essa sensação, que todo dia deve ser igual; mas não, dessa vez foi diferente. Brilhante, absolutamente brilhante! Parecia ter mais pelos que a MULHER-BARBADA, saltei mais alto que o TRAPEZISTA, apresentei gestos certeiros, tão ou mais perfeitos que os dos MOTOCICLISTAS do globo-da-morte, e ainda mais coragem do que a do DOMADOR.
Foram poucos minutos, mas eles riram, riram como se ria antigamente, riram como eu ria. Será que algum dia cheguei a rir?
Acaba o espetáculo, e é só tirar a máscara. Casa vazia, O riso triste se inicia.
Do que rir agora?




ILUSTRAÇÃO: "Pierrot" de Artista?Quem?

23.4.06

por Walker Cubano


Um texto de amor para a Bahia


Bahia de momo, de gracejos
Colombina e pierrô, tristes mundos
Da janela invisível da alma, do amor dos beijos de carnaval
Dos filhos do carnaval, cordeiros, ambulantes andantes, sofredores solitários
Do desespero, da lágrima de um filho sozinho, carnaval de ritos
De multidões e tristezas, fraquezas, do negro
Terra de verão, vermelho, um sorriso de mulata
Invadiu os trópicos de meus sentimentos, lugar de gente
Gente que gosta de gente, de ladeiras, das noites inacabadas
Cidade da Bahia, alegria explícita, de uma dor de pós verão
Aqui se vive cada dia de uma só vez, sem pressa
Bahia de oração, rezas, mandingas, de fé
Lugar de gente pobre e classe média falida também
De suor, cervejas, lágrimas de adeus
Terra onde não se nasce, se estréia
Terreiro de ogum, oxum, iemanjá, iansã e nanã
Igreja de Santa Bárbara, do Senhor do Bomfim, da Conceição
Caminhos de procissão, de lamentos, passos rumo à fé
Bahia do profano, de futebol, da beira mar
De história viva, Bahia, de poetas e poesias
Lugar de viver bem, de miséria, sobe o vidro, sinal aberto
Cantaram em verso, Pelourinho, Gantois, Jorge
Terra dominada, de cabelos brancos, olhar enganador
De braços abertos, das putas tristes e decadentes da ladeira da montanha, labuta
Tombaram, patrimônio, para turista ver
Cidade das águas, de sofrimento, de gente pedinte, sinal aberto para a miséria
Sinal fechado para o pobre, escondem, camuflam, gente suada, ebulição
Das tardes de ônibus lotado, do por do sol, dos alagados
Conflitos internos, conflitos de cor, maioria negra, de verdade
Fitas do Bomfim ao vento, largo de Santana, terra onde se ri do nada
Do Deus lhe pague, de hoje a oito, do pra semana, de um rio, Rio Vermelho
Flanelinhas inesquecíveis, todos viram doutor, um trocado, diploma de doutor nas mãos
Oxente, logo se transformou em oxe, ônibus passou a ser buzú, festa logo virou reggae, ditos
Das ondas, de Ondina, Itapuã de Vinícius, cidade do amor sem fim
Das pegadas na areia seca, dos copos, de corpos, envolvimentos
Um dia te pego em meus braços, carrego para mim, São Salvador
É para todo o sempre, só teu o meu sentimento, velha senhora, saravá!


Adendos- Depois de algum tempo sem escrever(não sei se meus textos ainda agradam) me senti angustiado, crítico demasiado de mim mesmo. Esse texto só foi possível graças a ajuda de um grande amigo chamado Leandro Maciel(por ventura também responsável por textos publicados nesse blog). Além de surgir como incentivador, editor e amigo, Léo surgiu como um grande observador de detalhes, sendo assim não há mais palavras para agradecer, divido esse texto com ele.

AGRADECIMENTOS ESPECIAS:
A Mariele Góes, pelas fotos cedidas e pela sua arte, nossa futura Pierre Verger dos trópicos.



ILUSTRAÇÃO: Artista?Quem? e Mariele Góes

2.4.06

por A.C. Ribeiro



Porto Mulher

Se existe um tal porto,
não apenas teve como também houve.
E na turbulência da tempestade do hoje
lembro saudosamente a vida do dia outro.

Era sonho de porto tropical,
de vida em recando da luz morna
do cálido amplexo, sua piedade.
Já lembrança morimbunda e melancólica.

Queria, queria e queria...
não basta desejar
quando da consternação de sua indulgência
Povoou meus sonhos por poucas estações.

E no porto mulher,
porto pseudo-consorte
nem sul nem norte.
Nem eu, nem tu, nem nós!





Ilustração: tela de Salvador Dalí. Gentilmente cedida por George Neri (merci!).

19.3.06

por .g


o homem do tempo

modifico
como o tempo,
como cor,
como sempre.

ontem eu ensolarava;
era alaranjado.
dava luz às plantas,
bronzeava os corpos,
esquentava os ânimos.

agora, cumuliforme, nublo.
sou todo nuvens,
em tons de cinza,
mas não noto o fato:
estou nelas.

há tempos não nevo.
em múltiplos flocos brancos,
enxergava do alto
carros submersos em gelo,
asas de anjos pelo chão.

sempre me acostumo,
mudança após mudança.
quando a adaptação é plena
sofro nova transformação,
sigo um novo percurso.

entretanto, há uma questão que me inquieta.
um alerta iminente:
de acordo com a previsão do tempo,
amanhã eu choverei chumbo.

causarei enchentes,
derrubarei o que estiver à minha frente.
amanhã, serei um temporal
e ninguém há de se salvar...




ilustração por .g + Artista? Quem?

8.3.06

por Artista?Quem?


DICIONÁRIO



Simples


encontros, querer, sinônimos, perder, papel em branco,
água, Maria, preto-e- branco, cores primárias, amizade,
soberba, amar, ódio, silêncio, cidades do interior, fé,
reencontros, sandálias, vilões, verão, início, crianças,
máquinas, artificial, alfabeto, pais, comer, utopia, o eu,
cópia, dormir, samba, SER COMPLICADO



Complicado


desencontros, escrita, ter, antônimos, ganhar, desenho,
colorido, cores secundárias, amizade, humildade, amar,
solidão, som, capital, reencontros, despedida, heróis,
medo, início, fim, adultos, filosofia, religião, arte, paz,
original, análise sintática, não ter pais, cozinhar, namoradas,
aceitar, meteorologia, segunda-feira, hexacampeonato, o nós,
SER SIMPLES




ILUSTRAÇÃO: gravura " Ponta de Diamante" de Jaqueline Aronis

4.3.06

por Walker Cubano


Egos ou ecos ?


Pensar em ego, eco e alter ego
Tirar dúvidas, é ego, gera ecos e questionamentos
Questionamentos geram dúvidas e ecos
Não necessariamente nessa ordem
Ser é estar, fazer, agir, atitude
Atitude é ego, faz eco, tem ego ou será eco?
Ando, faço, alter, alto, lá no alto do ego
Confuso? É eco, ego, ambos talvez
Conflitos, coisas de ego, deixa eco, cansei
Falaremos de beleza, é ego, narciso
Política, ambos, eco e ego
Poder, alter ego, eco e ego
Trabalho, cansaço mesmo
Cinema, arte, é ego, mas faz ecos
Rascunhos de texto, ego
Crise criativa, falta de ego
Mistérios, descubra
Amor, egos, muitos egos e ecos
Sexo, ecos, muitos ecos
Terminado o sexo, egos outra vez
Filhos, ecos
Adolescentes, egos
Tpm, ego para as mulheres e ecos para os homens
Histórias, eco
Personagens, ego and alter
Enredo, eco
Autores, egoístas
e-g-o, gerou e-g-o-í-s-t-a-s
eco gerou barulho
que gerou ego
que gerou guerras
que gerou mortes
que volta ao começo de tudo
que não gera conclusões
Ego ou ego?



ILUSTRAÇÃO : Artista?Quem?

13.2.06

por .g



Sobre quebrar dentes, sentir dor, sorrir &c


[Regeneração: eis simultaneamente o sonho e o pesadelo de todo ser humano. Estalar os dedos, deslocá-los e, minutos depois, notar que todos voltaram a seus devidos lugares... e novamente estalá-los. Roer as unhas, mutilá-las e, dias depois, notar que elas voltaram a seus devidos comprimentos... e novamente roê-las. Operar um câncer, removê-lo e, anos depois notar que o mesmo não só voltou, como evoluiu a seu maior tamanho... e reinicia-se a batalha. Preencher os seios, suspendê-los e, décadas depois, notar que a gravidade realmente sempre vence e que, a tal ponto, seria ridículo qualquer tentativa de se reverter a situação.]

Ontem quebrei meus dentes. Andava por aí, pela calçada da praia, à toa, espairecendo, como se costuma dizer, talvez esperando encontrar algo de interessante no decorrer da minha caminhada matinal. Repentinamente tropecei, fui ao encontro de uma rocha; de cara contra a rocha. A queda foi feia, horrenda, espalhafatosa. Perdi três incisivos (dois superiores, um inferior) e um canino.

Entretanto, havia ali três detalhes singulares. Primeiro: ninguém notou minha queda; todos passavam por mim, tranqüilamente, como se nada houvesse ocorrido comigo. Segundo: parece contrário à razão, mas eu caí de propósito!... e sem ao menos conhecer perfeitamente o objeto causador de minha investida. Terceiro, e o mais extraordinário: foi um momento muito especial - diria até agradável - diferente das ocasiões anteriores em que esse tipo de situação - bizarra, porém aprazível - se passou comigo. Sim, já me aconteceu isso antes. Talvez não tão deliberadamente assim, mas de forma igualmente agradável. Sangra um bocado, é bem verdade, mas é interessante. Há muito eu não passava por essa sensação de prazer temporário que, toda vez ao senti-la, tenho a esperança de que seja infinita. Ainda tenho essa sensação em mim e talvez ela dure por algum tempo.

Chegando em casa ninguém sequer comentou. Para eles, não havia o que se comentar; não havia nada ali. Tentei pelo menos estancar o sangramento, não pedi ajuda a dentista algum pois sei que nem o mais capacitado notaria algo de errado em minha dentição.

Ainda não dói, ainda é bom. Mesmo assim, sei que uma hora há de se iniciar a dor. O ocorrido foi ontem e ela ainda não chegou (ela costuma demorar). Já tenho medo de sua chegada. Mas sempre vem, não me surpreende, me estraga. Eu me estrago.

Há quem diga que a autodestruição, quando aprazível, é uma válida válvula de escape (para lugar nenhum, talvez para um recomeço de diferentes autodestruições). É como “beber até cair”, mas, nesse caso, o álcool é a rocha que me provoca entorpecimento e o “cair” é a queda procedida pelo quebrar dos dentes. Eles sempre crescem novamente. É, talvez, o momento ideal de prestar mais atenção ao meu redor. Provavelmente essa é a hora de adquirir ares de humildade e não mais me vangloriar desse bem quase surreal, que é minha constantemente renascente arcada dentária. Acaso seria esse o fato d’eu sentir prazer pela perda de meus dentes, sabendo eu que - logo após a imensa dor – eles renascerão?

Penso na dor física e nessas horas gostaria de ser como Ashlyn Blockers. Não a conhece? Pois veja a situação da garota: Ashlyn Blockers tem cinco anos e é portadora de uma rara anomalia genética que se caracteriza por não suar nem sentir dor, e por isso os pais e professores precisam mantê-la vigiada permanente para evitar que se magoe sem perceber. Ashlyn vive na cidade de Patterson, sul da Geórgia, e os seus pais, John e Tara Blocker, nunca tinham ouvido falar nessa anomalia até a levarem ao médico, aos oito meses, por causa de um olho inchado. O médico pingou algumas gotas no olho de Ashlyn para colorir qualquer partícula que pudesse estar a causar a irritação e, enquanto a coloração revelava uma enorme ferida na córnea, a menina permanecia a sorrir ao colo da mãe.

Um dos problemas comuns nas crianças com esta anomalia é que se ferem a si mesmas sem perceber: durante a dentição, Ashlyn mordia os lábios até sangrar durante o sono e, em determinada altura, enfiou o dedo na boca e arrancou pedaços de pele, sem se dar conta. Não sentia a dor da perda de um pedaço si. Sentia apenas o prazer da autodestruição. Cinco anos. Li sobre o caso num artigo da Ordem dos Médicos Dentistas (coincidência?), de Portugal, traduzido pela jornalista Paula Pedro Martins.

Pode-se dizer que há loucura, crueldade e inconseqüência nisso tudo, mas continuo a me perder nesse labirinto de pedras, à espera de uma solução, uma mão que me puxe, ou uma forma de se eternizar o prazer da autodestruição: analgesia, doce analgesia.

Com a pureza d'alma, espero que meus dentes não cresçam mais. Pra não sofrer a tentação de quebrá-los novamente.

*******

[E quanto à regeneração da alma, dos sentimentos, algo como uma perda que se recupera logo após, numa questão de tempo? Digo isso para amenizar a perda futura que há de me ocorrer, sim, ela há de me ocorrer. Perco-me, mas sobrevivo. Trata-se de uma regeneração para uma nova perda, mais ou menos como no plano físico. E assim segue-se num ciclo desordenado e imperfeito em que o prejuízo é muitas vezes válido como um lucro].


Ontem olhei os olhos de alguém. Andava por aí, pela calçada da praia, à toa, espairecendo, como se costuma dizer, talvez esperando encontrar algo de interessante no decorrer da minha caminhada matutina. Repentinamente olhei, fui de encontro ao olhar de uma moça; bati de frente com a moça. Foi como um acidente: proposital. Ela olhou em meus olhos, memorizou meu rosto e a partir daquele momento passei a existir...







Um curto adendo, pra não deixar de citar oportunamente a pequena notável islandesa, filha do caríssimo Sr. Guðmund: “Com licença, mas eu tenho de explodir. Explodir este corpo. Acordarei amanhã novo em folha. Um pouquinho cansado, mas novo em folha”.


Sobre a ilustração: auto-retrato por .g.

10.2.06

por Artista?Quem?


3329 7520


Início de ano, os alunos voltam para as salas de aula, mais um ano que começa. É de fato uma sensação estranha, pela qual muitos de nós já passaram e muitos ainda passam. Um misto de saudade das férias que acabaram e a alegria por rever os colegas.
No meu caso o período na escola somou quinze anos, entre brincadeiras com a “tia” na pré-escola até o “terror” do vestibular! Graças a Deus nunca repeti o ano porque sempre tinha a boa e velha recuperação para nos “recuperar”.
Atualmente as coisas ficaram mais fáceis, basta um simples telefonema e algumas apostilas depois...você está formado! Peraí, que eu vou explicar melhor, e fique atento se você ainda não tem o primeiro ou o segundo grau, essa pode ser a sua oportunidade. Sem mais enrolações, lá vai:

Ligue para 3329 7520 e faça o primeiro e o segundo grau em no mínimo 60 dias! De acordo com um curso supletivo na cidade de Salvador (detentora da grande metodologia pedagógica aplicada) o “estudante” pega o material “didático”, dois módulos, cada um contendo oito matérias com os assuntos da 5º,6°,7°,8°,1°,2°,3° séries.
Detalhe, não é necessária a presença em sala de aula, é só telefonar para o curso e marcar a data e horário da prova. Você não leu errado, é uma prova única que sagrará algum pobre-coitado a detentor de um diploma de 2° grau completo!
Chore! Pode chorar, eu deixo, daqui a pouco vc continua a ler, pode abaixar a cabeça e no teclado do computador e chorar. Acho que eu vou chorar também, só não sei se por aqueles que como eu passaram vários anos na escola até adquirir um diploma ou por estes que se formarão meteoricamente.

Nos anos em que vivemos as coisas ficaram mais fáceis (aparentemente, diga-se de passagem), tão fáceis que nem nos lembramos dos anos de ditadura. Basta um simples click no mouse, um “sim” ou um “não” para se mudar a ordem das coisas. Banalizaram a liberdade a tal ponto q até a ciência ta entrando na onda também. Futuramente por meio de métodos que estão sendo estudados por geneticistas, os futuros pais poderão escolher não só mais o nome do filho como também a cor da pele, dos olhos, o sexo; quando não, algum tempo depois, também as suas preferências musicais, sexuais, religiosas, etc.
O mundo anda perdendo a graça definitivamente! Se esses novos avanços se perpetuarem teremos novas divisões no mundo moderno. Se hoje somos separados entre em várias classes e denominações como: ricos e pobres, brancos, pardos ou negros, 1° mundo ou 3° em desenvolvimento, norte, sul, leste ou oeste; agora seremos divididos entre bonitos e feios (se é que já não somos), os feios serão aqueles que nasceram provavelmente até 2010 e os bonitos aqueles gerados, se é que se pode chamar assim, do não de 2020 ou 2030 em diante. Por que? Vocês acreditam sinceramente que depois desses novos ditames ainda vai existir alguém querendo que seus filhos nasçam ao natural? Cheinhos de imperfeições?
E a essa altura do campeonato pensaremos: será que os ditadores tinham razão? Perdão! Retiro a pergunta imediatamente. Prefiro não indagar, pois se a resposta for sim, e a ditadura for de fato a solução, peço pro motorista parar, porque eu vou querer descer dessa zorra que ainda chamam de mundo!

Mais peito ou menos peito? É só mudar de canal
De que sabor você vai querer?
Quem eu serei hoje no meu perfil do ORKUT?

É... um dia televisão já foi preto-e-branca. Só existiam o chocolate, o morango e o creme como sabores de sorvete.

Ahh...já ia me esquecendo...
À vista R$650 ou 1+3 de R$ 200, aceita-se cheque pré-datado, cartão, ticket refeição, vale transporte, dignidade e amor próprio em 7 vezes sem juros.

Pobres educadores do Brasil...






*se vc souber de algum endereço para denúncias, por favor escreva-me um comentério


ILUSTRAÇÃO : Artisata?Quem?

por Walker Cubano



De um bem


Você, eu, eu e você, meu bem.
Na chuva, em transe, na casa de alguém
Na dança de ontem, na morte.
Na dor e na oração
Você, eu, eu e você, meu bem.
Na procissão de sentimentos certos
No samba de uma nota só
Incertezas não há, Amor de cinema talvez.
Você eu, eu e você, meu bem.
Ainda lembro de ter que querer
Uma vida de outras vidas, tudo traçado.
Assim caminhamos, até o fim do infinito.
Até o envelhecer do tempo
Dançando um samba comigo
Sem brancas nuvens
Você, eu, eu e você, meu bem.
Sem medo do adiante que talvez há de vir.
Com medo das cartas e das eventuais despedidas
No risco da palavra, atravessando a rua.
Na música que toca no rádio daí
Na lágrima que corre na face daqui.
No sentimento diário que corre com a rotina
Na tela da tv e onde não se vê
No gesto, no olhar, olhando sem estar
Você, eu, eu e você, meu bem.
Nas noites sem luar e de lua cheia também
Nas cores do semáforo, nos silêncios
No doce e leve andar da menina, flutuante, no ar
Naquele refrão que você tanto gosta, no quase, no que já é, no que será
Você, eu, eu e você, meu bem.
No dom de iludir, na mentira sincera.
No complexo, no outro alguém.
Você,eu, eu e você, meu bem.




*Este texto só foi possível devido à ajuda de um grande amigo e crítico dos meus textos,
obrigado Artista?Quem?, muito obrigado Leandro Estevam.



ILUSTRAÇÃO : Artista?Quem?, baseado na fotografia "Ubachuva" de Ivan Yoshio





4.1.06

por Walker Cubano


Dance um samba comigo






Dance um samba comigo
Pra eu não chorar
Dance um samba comigo
Pra eu não morrer de amor, pra eu não chorar
Dance comigo até amanhã de manhã, cedinho
Chega, fica, bebe mais um pouco, até amanhã
Diz nada não, olha pra mim, dance um samba comigo
Fale de amor como só você sabe, fale de nós
Dance um samba comigo, o samba de adeus
Chega perto, acende o cigarro, pega o copo
Liga o som, bota o disco de cartola, dance o sentimento
Para de mentir, você não é assim, apaga a luz
Tome mais um café, pare de ler esse livro, dance o samba
Curta o inverno, me dê um abraço, depois me acolha nos seus braços
Dance um samba comigo
Fale bobagens, deixa a porta bater, esqueça o rádio ligado
Pra que esse medo, lembre daquela música
Pare de fazer planos, você não é assim
As lembranças de outrora, acabaram, rasgue aquele bilhete
Dance um samba comigo
Peça a Deus compaixão, eu te perdôo
Leia a bula, abra a janela, desliga o som
Insista não, pra eu não chorar
Faz como ontem, não me esqueça hoje cedo
Vá, mas não deixe uma carta
Dance, vem ver
Dance um samba comigo

Fabiano Augusto e a Personalidade Histriônica


Uma possível tese para psicólogos do divã sem futuro

Dedicado a todos aqueles que sofrem desse mal e que, por falta de semancol, ainda não buscaram tratamento.

por . g

Já reparou na propaganda das Casas Bahia? Mas, reparou mesmo? Sentou, “colou a bunda no sofá” e, meditativamente, prestou atenção às caras, bocas e esgares do garoto-propaganda da loja? Então, você há de concordar que o rapaz é um bocadinho “impressionista” em seu modo de exaltar as ofertas a serem propagandeadas, certo?

Pois bem... O fato é que andei questionando os possíveis motivos para um rapaz executar gestos tão efusivos, falar tão alto, rasgar papel e empurrar figurantes que interpretam consumidores e funcionários. O mais claro seria pensar que ele foi orientado pelo(s) diretor(es) a agir de tal forma, para chamar a atenção dos consumospectadores (Joyce deve estar se revirando no túmulo depois dessa).

Decidi desconsiderar essa possibilidade devido à ululante obviedade da mesma: a propaganda é incômoda demais pra quem presta atenção nela. E foi desse incômodo que surgiu minha iniciativa de encontrar explicações para o caso de Fabiano Augusto (sim, esse é o nome dele; nome de protagonista de novela mexicana).

Resolvi buscar em outras fontes – não me pergunte quais – o porquê da atitude do nosso garoto-(anti)-propaganda em questão. Primeiro, comecei a “trabalhar” na possibilidade (ainda muito óbvia) de o cara ser um drogalito. Perdão pela palavra “drogalito”, que só delegado usa. Parece até termo de geologia ou astronomia...

Mas, voltando ao que dizia: minha outra idéia era que ele poderia estar usando drogas antes das gravações (como os bluesmen o faziam com a heroína, os regueiros e os atores de teatro com a maconha e os músicos eruditos com os beta-bloqueadores). No caso de Fabiano, só poderiam ser drogas estimulantes: heroína, cocaína, Ritalina etc. Por que toda droga estimulante tem “ina” como sufixo? Só não sei sobre a creolina e a Carolina. Ao menos, a Carolina que eu conheço é uma dro... mas, bem, não fujamos do tema. Seria irreal pensar que o rapaz estaria usando drogas pra fazer propaganda das Casas Bahia. Qual o apelo dramático que uma propaganda dessas exige de um ator a ponto de ele necessitar de substâncias psicotrópicas para se desinibir?

Tente compará-lo, por exemplo, com o nosso, suportável, Pereira da Insinuante. Perto dele, Pereira torna-se mais querido que o saudoso pero, no mucho, gambá da Parmalat (tomou? digo, lembrou?).

E, o que dizer sobre aquela anta insolente que, de uns tempos pra cá, vem dividindo as propagandas com Fabiano Augusto? Ela, ao menos, não tem obtido êxito algum em tentar imitá-lo. Mantém-se no papel de sombra, a pobre moça.

***

Cheguemos, portanto, sem mais delongas, ao – como diria um analista, amigo meu – ponto de Fabiano:

Personalidade Histriônica. Esse é o nome do real problema do rapaz. Trata-se de um transtorno de personalidade patológica.

São essas, algumas características do histriônico:
Expressa as emoções com exagero inadequado, como ardor excessivo no trato com desconhecidos, acessos de raiva incontrolável, choro convulsivo em situações de pouco importância.
Sente-se desconfortável nas situações onde não é o centro das atenções.
Busca freqüentemente elogios, aprovações e reafirmações dos outros em relação ao que faz ou pensa.
Mas, a característica principal é a tendência a ser dramático e buscar as atenções para si mesmo.
Veja só a típica auto-descrição de um histriônico, nesse caso, Alex Gezzle (dono de uma comunidade do orkut sobre o problema):
“Dizem que sou excessivamente emocional, estou freqüentemente em busca de atenção, e que me sinto desconfortável ou desconsiderado quando não sou o centro das atenções, requisitando sempre o papel de "dono da festa". (...) Tenho um estilo de discurso excessivamente impressionista, dramático, teatral e exageradamente emocional. (...) Mas, após toda essa descrição, estou convicto. NÃO SOU HISTRIÔNICO!”.
***
Existem muitos histriônicos por aí, inclusive, em nosso convívio. Eles estão por todo lugar. Fabiano Augusto é, apenas, um pequeno exemplo dentre tantos outros. Você, inclusive, pode conhecer um... ou ser um.

“E aí? Quer pagar quanto? Quer pagar quanto? Hein, hein?” (Fabiano Augusto)

Informações adicionais:
Fabiano Augusto já foi apresentador de um programa na TV Cultura, “Turma da Cultura”.
Há, no orkut, por volta de 200 comunidades relacionadas a ele e/ou às Casas Bahia (na maioria, em repúdio).
Há quem diga que está “confirmado com a Band que ele irá fazer um programa diário [sic] na emissora”. Segundo essa fonte, “os executivos dizem que buscavam um grande humorista de talento [sic] para aumentar a audiência”.
Para refletir durante a semana: Por que na Bahia não tem Casas Bahia?

Wel Come Quem?

Bem vindo! Bem vindo? Será mesmo? Permanece a dúvida...


Este blogue é neo-barroco por natureza, com leves toques de pós-iconoclastia zen-budista. Este espaço preza por pessoas eruditas, então, se você não é pós-doutorado, graduado em Guadalajara, ou passou férias na Riviera Francesa, você não será capaz de distinguir o que está a ser exposto. Odiamos gerundismo, então, se você é secretária, atendente de telemarketing, ou recepcionista, não se dê ao trabalho de abrir esta página. Adoramos telenovela e acreditamos numa revolução baseada nos pensamentos de Glória Perez. Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores! Que é música? Ruído? Surdez premeditada? Calem-se os decibéis! Pegue sua tesoura e corte os acordes. Críticas? Mamãe me ensinou que críticas, só as elogiosas. Licença poética é o que não vai faltar. Odiamos roupa. O algodão nasce para ficar exposto no seu pé e vovô, alguns anos atrás, me indagou: “O que pesa mais: um quilo de chumbo, ou um quilo de algodão?” Quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha? Não estamos aqui para dar respostas, mas para lhe encher de questionamentos. Qualquer dúvida consulte o Aurélio, afinal, o dicionário nunca deixou de ser o pai-dos-burros.








“Não estamos aqui para explicar. Estamos aqui para confundir".
(Chacrinha, psicocitado por Tom Zé)





E ainda com muitas coisas a dizer, mas que ainda estão por vir, assinamos abaixo:


Walker Cubano


.g


Artista? Quem?

por Artista?Quem?


TÍTULO: João Ninguém
Para ser visto ao som de: B-Negão e Seletores de Freqüência - Dança do Patinho,
ou Seu Jorge - Chatterton,
ou Nação Zumbi - Propaganda.