14.8.06

Walker Cubano transcreve imagem de Artista?Quem?

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O impacto do Buda Nagô

E lá estava eu, sentado, meio que largado no sofá da sala de casa, meio desatento como é de costume, quando repentinamente surge a imagem daquele homem na tela da televisão: Um homem magro, abatido, sentando em uma cadeira de rodas, vestido com uma blusa azul, cabelos brancos, olhar sereno, sorriso rasgado no rosto, era um homem feliz por está de volta à sua terra, era ele, o mestre Caymmi, Dorival Caymmi, 92 anos de história viva e lúcida para receber homenagens. E falar de Caymmi é falar da história da música popular do Brasil, de versos lentos acompanhados por um violão suave, embalados pela voz baiana, amor incondicional à Bahia, de 1914(ano de nascimento de Dorival) até os dias de hoje.
E me revirei no sofá, os olhos brilharam, parei, a desatenção sumiu, atenção, Caymmi voltou para receber o prêmio Jorge Amado de Literatura e Arte, e já não me importava se ele estava em cadeira de rodas ou com a fisionomia abatida, a sensação agora era de contentamento, alegria em ver. Temos( e me incluo neste “temos”) o péssimo hábito de fazermos homenagens póstumas, homenagens singelas e tocantes sim, mas homenagens póstumas, o sujeito morre e logo fazem uma homenagem póstuma. Aqui, acontecia de maneira diferente, era uma homenagem a um senhor de 92 anos, vivo, em perfeitas condições mentais de receber e entender tal homenagem, um alívio para os que odeiam(assim como eu) as malditas homenagens póstumas.
É, aposto com qualquer um que existem milhares de Marinas por aí que não sabem que existem uma música com seu nome, como também há muita gente que não sabe o que é que a baiana tem, e pessoas que desconhecem como é bom ver o mar em Copacabana. A vizinha do lado também não sabia que Caymmi compôs uma música só para ela, coincidentemente intitulada de “A vizinha do lado”, os apaixonados que não conhecem “Nem eu”, não estão apaixonados e os pescador que nunca cantarolou “um pescador tem dois amor, um bem na terra, um bem no mar...”, da mesma forma não possui histórias para contar...
E ver Dorival (intimidade de baiano para baiano) foi de uma emoção indescritível para este jovem de 21 anos, porque ouvir, ler ou simplesmente ver a imagem de Caymmi é ter a sensação de está em paz consigo mesmo, é se sentir em plena festa de Iemanjá nas tardes das rotinas enfadonhas, é viver deitado na rede branca, debaixo de um coqueiro, esquecer o trânsito infernal, a falta de educação e a violência da Bahia dos dias de hoje. E em instantes estava bem, de férias da minha alma e com orgulho de ser baiano, sandálias de couro no pé, ou simples havaianas de dedo (como se dizia antigamente) E em tempos de efemeridade, na vida e na música, foi tão bom revê-lo, em dias de pseudos- versos, batuques mal batucados, sambas que se transformaram em pagodes mal pagodeados, fiquei feliz. A história permanece viva, a alegria, a música e o talento continuam “aí” para quem quiser ver, para quem quiser ouvir e para quem quiser ver
(como eu vi) e aprender um pouco mais. Ninguém vai cantar Itapoã como Caymmi cantou, ninguém vai cantar e contar a Bahia como Caymmi cantou e contou. Levantei do sofá, abri a janela, olhei para o céu, o sol brilhava, não havia uma nuvem se quer naquele emaranhado de tanto azul, coloquei meu chapéu de palha e decidi: Vou para Maracangalha!


* Para Luana Rocha e Pedro Caldeira



Para ler ouvindo-

Para Caymmi, de Nana, Dori e Danilo - 90 Anos (de Nana Caymmi, Dori Caymmi e Danilo Caymmi),
Caymmi 90 Anos - Mar e Terra(Cantores diversos)
Ao mestre, com carinho (de Claudio Nucci).

Para ouvir lendo-
· Dorival Caymmi – O Mar e o Tempo. (Editora 34), de Stella Caymmi, 2001
· Cancioneiro da Bahia, Dorival Caymmi. (Editora Record),1978
· Dorival Caymmi SongBook. (Lumiar Editora - 2 Volumes), de Almir Chediak, 1994


Discografia do artista disponível em: http://www.sombras.com.br/dorival/dorival.htm#discografia

9 comentários:

Lua disse...

Um saudosismo delicioso... Sabemos(tanto eu qnto vc)as mazelas dessa nossa linda terra. Mas, é uma delícia ler esse texto tão leve e sonhador que promove a nossa LINDA Bahia. Esse texto é vc e vc é a Bahia de Caymmi.
Parabéns, meu colega!

Lua disse...

Um saudosismo delicioso... Sabemos(tanto eu qnto vc)as mazelas dessa nossa linda terra. Mas, é uma delícia ler esse texto tão leve e sonhador que promove a nossa LINDA Bahia. Esse texto é vc e vc é a Bahia de Caymmi.
Parabéns, meu colega!

Flavia Vasconcelos disse...

Texto belissimo como sempre! Sorte de termos um mestre como Caymmi cantando nossa terra! Sorte mesmo...
Parabéns Theteu!

Anônimo disse...

wow
lindo, meu caro tchonson

Anônimo disse...

é incrível como uma coisa simples como um par de sandálias leve a algo tão rico como era Caymmi. Acho q ele devia ter algo de simples na essência tb...geralmente qnto mais simples, mais belo

OBS.: nossa dobradinha de imagem texto (ou o contrário)tem continuar

Anônimo disse...

Aí eu fico até sem graça de comentar depois de um texto desses.
Realmente me sinto agredido pelas palavras deste rapaz, sinto inveja de alguem que consegue se comunicar tão bem através de um texto como Matheus. Fico feliz em saber que este texto teve como inspiração uma foto de meu grande amigo Negao.
Nao sinto uma inveja negativa não, a inveja também pode ser algo bom, assim como eu sinto deste rapaz.
Invejo-te porque te admiro Matheus, tudo q eu tenho a dizer sobre este texto é: parabéns!

Anônimo disse...

o azul da blusa de dorival nos transporta a um fluxo de infinitas sensações e inspirações sobre sua obra.

o mesmo acontece com o azul das havaianas da imagem, relacionando à obra de quem as fotografou (vide a tela do mar revolto).

Anônimo disse...

Breno falou tudo lá em cima!
Que inveja boa hein??
Estão de parabéns, continuem assim !
Só está faltando 1 texto sobre a paixão rubro-negra! HAHAHAHAHAHAH!
abraços

Adriana disse...

Eu estou fazendo um evento no colégio onde trabalho, e o homenageado deste ano é Caymmi. Por acaso, lendo textos sobre ele na net, encontrei o seu...
Texto belíssimo. Parabéns!