Estranho Conhecido
Será que é? Senão é, como há de ser? Mais denso, mais curvo, mais calmo, mais calvo? Talvez menos tenso, menos encolerizado, com mais limites entre o certo e o errado, o “não” e o “sim”, com mais clareza, sem meias palavras e jogos. Disseram-me que seria como dançar feliz sem música de fundo, como ouvir sem que o outro precise dizer, seria como Tom Jobim, Vinícius, Chico, Cartola e Noel numa mesma canção, como Niemeyer e Phillipe Starck assinando um mesmo projeto, seria como um dia com 48 horas de duração e sem trabalho, como um Carnaval eterno. Embora muitos preguem que se pareça com um enforcamento ou um casamento com a dor, um labirinto, um querer quase escravo, uma autoflagelação, e fujam dele, muitos continuam a buscá-lo sem saber o porquê. Será eterno?Durará até o próximo inverno? Estarei um dia de terno no altar? Pode ser que tudo que eu tenha como evidência da sua existência não seja de fato válido e a humanidade inteira esteja errada: o pulsar mais forte, o querer bem, o sofrer junto, a euforia, a saudade, a presença enquanto um se faz ausente, o dormir abraçado, o cantarolar pela manhã, o andar de mãos dadas, o rir de si mesmo, o pensar no futuro, o “eu te amo”, não valham de nada. Provavelmente sejamos todos loucos. Loucos pela felicidade, de um otimismo exacerbado, de um desprendimento com o futuro e com o ridículo. Loucos, como dois camicases que não conseguem jogar o avião, dois homens-bomba medrosos, loucos por um sentimento que não conhece nem a nascente nem o poente. Talvez seja como um feto eterno que nunca virá à luz, um desconhecido. Um estranho conhecido. O amor.
Imagem: "My Hearts Bleeds no More" de Endorphine
7 comentários:
O que poderia comentar sobre o seu texto? Não sei direito, na verdade! O certo é que é sempre uma alegria ver um texto seu exposto aqui no blog, e ver o blog voltando a trabalhar em alta voltagem.
È, o que seria de nós sem o amor? Sabe-se lá, o certo é que ninguém consegue viver sem ele...
Que o amor seja sempre referencial para bons escritos como esses!
No mais, vida longa, á você e a ao blog!!!
Axé, sempre!
Caramba, você ticou num assunto tão complexo e ao mesmo tempo tão simples. E soube muito bem traduzir o que eu sinto, pq tbm amo! Acho que é o sentimento mais completo que um ser humano pode sentir... Mexe com tudo! Cabeça, coração... Engraçado que só qnd a gente ama, a gente se permite ser ridiculo! Lindo texto, lindo coração!
*tocou
Li esse texto ontem, quer dizer, hoje às 2 e alguma coisa da manhã. Achei muito bem construído. As comparações encaixaram perfeitamente mesmo saindo um pouco do tema e ficaram ainda melhores por fugirem dos clichês.
Um lindo texto, Parabéns!
Se gostar é pouco, se amar é muito, se adorar é pra poucos.
Se eu quisesse sorrir, se eu quisesse sumir ou o nada quisesse.
E ao dizer sim? E ao dizer não? E se o talvez, dissesse?
Mas se eu afirmasse não ter qualquer palavra? Ou te dissesse que é no teu rosto que penso quando preciso do apoio de alguém? E que o coração bate e que as mãos esfriam e que os olhos brilham e que eu saio de mim só para me ver com você?
E se eu dissesse que te amo?
Eu te amo.
Hoje mais ainda.
Mas você usa as palavras de um jeito a me deixar sem tê-las. Não saberia dizer tanto. E não consigo qualquer racionalidade, mínima que seja, para comentar aqui. Contento-me então com o coração - e como ele pulsa...
estou suspirando...
é o bichinho da paixão atacando a todos ! hihihi
Daí que eu pego isso aqui:
"E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior"
(Caetano Veloso)
e cruzo com isso aqui (que foi inspiração pro de cima):
"Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"
(Luís Vaz de Camões)
E dá na equação que eu penso ser a ideal:
Amr x Amzd = Flcdd
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