9.7.06

Crê, é sobre Ronaldinho (ou O verdadeiro fenômeno)

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Por .g


Notas preliminares:

- O texto que segue foi escrito antes do término da Copa do Mundo.

- Nenhuma verba foi concedida pela Nike, Santander, Kibon, Bubbaloo, Omo, Pepsi, Oi, Rexona e outros para a composição deste artigo.



No dia 21 de março de 1980, numa chácara próxima a uma cinzenta cidadezinha localizada ao sul da Inglaterra, ocorreu um fenômeno raríssimo e irreprisável. No exato instante em que um passarinho deixava escapulir um fruto (pequeno demais para nossas mãos, mas grande o suficiente para não encaixar em suas garras), um saco plástico se encontrava pairando no ar, tal qual uma pluma, voando ao sabor do vento. De súbito, eis que o fruto, caindo do céu, entra perfeitamente dentro do saco plástico, que bailava ao ritmo do vento. Este, com o advento do fruto entrando na sacola, não mais ofereceu resistência àquilo que parecia ser um evento único, embora tenha sido testemunhado somente pelo pobre pássaro, que perdeu sua refeição. Ambos -- fruto e saco -- caíram num poço concluindo a seqüência de duas metas.

Exatamente nesse mesmo dia -- enquanto o Presidente norte-americano Jimmy Carter anunciava o boicote americano aos Jogos Olímpicos de Verão em Moscou como forma de protesto pela Invasão Soviética do Afeganistão -- na Zona Sul de Porto Alegre, mais precisamente no bairro de Vila Nova, uma mulher de baixa renda, Miguelina de Assis Moreira, entrava em trabalho de parto para o nascimento daquele que, vinte e seis anos depois, sendo considerado o melhor jogador de futebol do mundo (e, para mim, de todos os tempos), estaria se preparando para seu segundo mundial: Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho.

Com a carreira futebolística iniciada aos sete anos de idade, no Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, Ronaldinho atraiu a atenção do mundo ao marcar um gol absolutamente inesquecível, dentre os sete marcados na partida em questão, no jogo contra a Venezuela, quando ele deu um chapéu no zagueiro e chutou no canto do gol. A partir daquele instante, grandes clubes passaram a desejá-lo com tal veemência, que por um tempo foi necessário à direção do clube colocar uma faixa na entrada da sede avisando que o jogador não estava à venda.

Mas Ronaldinho já resplandecia demais para não se permitir assinar um contrato com um clube de maior porte. Seria um passo fundamental para seu crescimento na carreira de jogador, levando-se em consideração a precariedade dos clubes brasileiros -- principalmente por parte dos cartolas que tratam o futebol como um negócio de exportação -- em comparação aos grandes clubes europeus. Foi então que, com uma proposta do Paris Saint Germain, o Grêmio, numa atitude de transigência em que já não era mais possível outra opção, aceitou a idéia da despedida.

Atualmente, depois de passar um por um período de quase ostracismo no PSG, Ronaldinho tem dividido as atenções com seus colegas no Barcelona. Enquanto grandes jogadores emergentes do Barça, como Eto'o, Deco, Messi etc, tentam brilhar diante de luzes, câmeras e cartolas, em busca dos seus devidos lugares ao sol, O Gaúcho ofusca em absoluto, é único, o melhor, duas vezes incomparavelmente melhor.

Agora, ele busca mais uma vez ser o grande showman, como é chamado pelos que admiram sua arte no Barcelona, numa Copa em que a força e a pura objetividade direta tentam ao máximo sobrepujar a técnica, a arte e a alegria típicas do nosso futebol. Dentre músculos e ausência de técnica, saímos em vantagem, com uma equipe repleta de estrelas. É bem verdade que uma delas não conseguiu brilhar tanto quanto se era esperado. Pena que não o colocaram em seu devido lugar e quando o fizeram era tarde demais. Pena que seja tanta estrela pra uma só constelação.

Confesso, sou daqueles que estufam o peito pra afirmar que Ronaldinho é um gênio da bola: joga brincando, sorrindo, como um grande artista o faz ao receber o aplauso da platéia. Atente-se ao movimento do Gaúcho em campo. Por certos instantes, a impressão que nos passa é a de que ele, a bola e até mesmo o campo transformam-se num só ser, numa simbiose mágica; relação sem necessidade de discussão. Cada um cumprindo seu papel no momento exato. E o faz com perfeição.

Ronaldinho é o maior do mundo não por falta de grandes jogadores. Hoje, há jogadores contemporâneos dele que, embora saibam manter um bom relacionamento com a bola, não conseguem sequer se aproximar do brilho de Ronnie (como os espanhóis se habituaram a chamá-lo). Falo de Zidane, Shevchenko, Henry, Eto’o, Riquelme ‘and the list goes on’…

Enfim, concluo: Ronaldinho é raro.
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Ilustração: indio


Para os incrédulos, um pequeno aperitivo da arte de jogar bola (youtube, please!).
Põe o dedo aqui

6 comentários:

Anônimo disse...

mto boa a idéia do link pro vídeo, completa o texto mto bem!


OBS.:ñ tem como negar mais, essa é a sua futura profissão (quem sabe um dia ñ nos tornamos colgas de profissão?)

Anônimo disse...

É, acho que formaremos "Ao cubo", também no jornalismo( já que Negão também quer seguir a profissão). Lindo texto!

Anônimo disse...

eh o nosso bom e velho fenomeno! =D

sei naum, futebol eu naum discuto naum, alias... futebol agora soh qdo o Baêa voltar pra 2ª divisão (pelo menos) e qdo o parreira for oficialmente demitido da seleção... se der... se o zagallo morrer tb! =D


parabens pelo txt! ta mto bom! um grd estilo!

Flavia Vasconcelos disse...

Moço, você domina perfeitamente as palavras e as idéias. Sabe como ninguém descrever uma situação de forma que nos prenda a atenção até o final. Não pense duas vezes, você já é nosso futuro colega de profissão!

Beijos

Anônimo disse...

Tava faltando meu comentário para abrilhantar esse blog! hahahahahaah brincadeira
Achei interessante o parametro do nascimento de Ronaldinho e fatos ocorrido a sua época.
Concordo com vc em quase todo o texto menos em 2 coisas:
- O melhor de todos os tempos
- E que ele jogou na posição errada
O primeiro é uma opinião sua...respeito.
Qnt a segunda acho bem discutivel.Se ele é um CRAQUE de jogador ele poderia muito bem render em outra posiçao, exemplo disso temos a Copa de 70, o então Zagallo conseguiu a proeza de por no meio-de-campo 3 canhotos (Tostão,Rivelino e Gérson)...craque que é craque se entende!E foram o que eles fizeram!
Abraços!Continue fazendo ótimos textos!

Anônimo disse...

GG

Estou de saco cheio de futebol, ronaldinho, copa etc, como você já sabe. Futebol pra mim só tem graça quando eu estou jogando. Então, vou focar meu comentário no seu dom jornalistíco-literário!
Você escreve bem ( eu já te disse isso), e eu sou uma fã incondicional de ''sobre quebrar dentes, sentir dor, sorrir &c''! Fora Direito!! Imagina, o nosso Getúlio havaianas life style todo engravatado, todo engomadinho! Jamais! Sim ao Jornalismo! hahaha.

Falow, beijoss!